OTHER: Ilha da Resistência, by Nikki

Ilha da Resistência

ILHA DA RESISTÊNCIA
por Nikki

Por questões profissionais, eu fui obrigada a participar de um reality show de sobrevivência. Como se não bastasse eu não fazer o tipo "sobrevivente", ainda tinha que lidar com a antipatia instantânea e competitividade dos meus companheiros de jogo, especialmente de um deles.
Eu não demorei a aprender que para ganhar tem que saber fazer aliados.
Mas até que ponto vai a lealdade quando tem dois milhões de dólares em jogo?
Gênero: Aventura, Romance, UA
Dimensão: Longfic
Classificação: PG-15

ܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔ

# Capítulo 1 # Capítulo 2 # Capítulo 3 # Capítulo 4 # Capítulo 5 # Capítulo 6 # Capítulo 7 #

 

 

Capítulo 1

 

Em quatro anos trabalhando para a revista MediaWeek, minha chefe nunca tinha sido do tipo agradável. Eu suspeitava que ela não sorria a menos que estivesse assinando uma carta de demissão. Ver todos aqueles dentes brancos em sua boca enquanto entrava na sua sala? Eu estaria mentindo se dissesse que não achei assustador.

— Olá, — ela arrulhou para mim. — É um prazer vê-la novamente. — Ela me pegou pelo cotovelo e me guiou para dentro do escritório, fechando a porta atrás de si.

Outro mau sinal. Bem, isso e meu primeiro nome. Minha chefe só me chamava pelo nome quando... Pensando bem, ela nunca me chamou de .

Notei então que havia mais alguém na sala. Um homem, com um chapéu estilo Indiana Jones nas mãos. Sua camisa me fez pensar que ele tinha vindo direto de um safári. Ele sorriu para mim, relanceando mais dentes brancos na minha direção.

Eu devia estar muito encrencada.

— Oi — eu disse sem jeito, incerta do que dizer, e afundei na única cadeira vaga. Minhas palmas já estavam suando, e eu esfreguei-as no jeans, para secá-las. — O que houve?

 Janet trotou para o ouro lado da mesa, os saltos estalando contra o piso. Ela sentou-se delicadamente e girou para me encarar, juntando as mãos a sua frente e dando um olhar de soslaio para o estranho na sala.

, eu chamei você porque... nós temos uma, hm, atribuição interessante para você. Como está sua carga de trabalho atual?

Conhecendo minha chefe, por atribuição “interessante”, eu interpretei rebaixamento, como ser designada para separar correspondência ou tirar o lixo. Eu forcei um sorriso a despeito do meu desespero e tentei parecer mais ocupada do que realmente estava.

— Estou trabalhando em alguns artigos editoriais, e aquelas duas páginas para o artigo de moda da semana que vem—

Ela fez um gesto de desdém com as mãos.

— Ah, isso? Graças a Deus. Nós podemos colocá-la em algo importante, então. O sr. Matlock aqui vai trabalhar com você nessa atribuição.

O homem em questão olhou na minha direção e me perscrutou — eu podia jurar que estava avaliando minhas pernas.

— Ela se sairia bem, eu acho. Parece estar em forma decente, é jovem, e razoavelmente atraente.

— Razoavelmente? Que gentil da sua parte — falei antes de pensar. — Aposto que diz isso para todas as mulheres.

Para o meu alívio, ele riu.

— E tem personalidade. Ainda melhor.

Por que raios minha aparência era meio que um critério para o trabalho? Eu fazia resenhas de livros para uma revista de entretenimento, pelo amor de Deus. Eu lancei à minha chefe um olhar confuso.

— De que tipo de atribuição vocês estão falando?

O homem se inclinou para frente e sorriu novamente, como se compartilhasse um segredo.

— Eu sou Jim Matlock.

Obviamente eu deveria saber quem ele era. Escaneei meu cérebro, pensando. O olhar em seu rosto tornou-se vagamente insultado, enquanto os segundos passavam e eu continuava impassível.

Ele voltou seu olhar para Janet, recostando-se de volta.

— Jim Matlock — Janet enfatizou. — Da Ilha da Resistência. Produtor Executivo.

— O reality show? Sério? — Eu estava surpresa. Tinha assistido alguns episódios aleatórios da primeira temporada, que era só sobre pessoas bonitas na praia, saltando através de aros coloridos e comendo insetos para ganhar um grande prêmio em dinheiro. Não fazia muito meu gênero, mas eu tinha ouvido alguns comentários. Principalmente sobre como a grande final do ano passado tinha sido uma decepção total. Não que eu pudesse dizer isso a ele. — Soube que está prestes a começar a filmar a segunda temporada — eu disse, optando pelo tato.

— Nas Ilhas Cook — ele concordou, e o sorriso megawatts retornou. — Eu receio que a emissora esteja um pouco preocupada com a audiência, no entanto, então estamos recorrendo a algumas estratégias diferentes para poder criar um pouco mais de antecipação para a segunda temporada.

— Ah é? — disse polidamente, me perguntando onde eu me entrava nisso. — E você quer que eu faça uma resenha favorável? — supus, embora algumas coisas não se encaixassem. O programa era para o outono e estávamos no início da primavera, era muito cedo para uma resenha.

E uma análise forçadamente lisonjeira? Janet sabia que eu odiava isso — eu era famosa pelas minhas resenhas mordazes.

— Nós queremos que você escreva, mas não uma resenha — começou lentamente o sr. Matlock. Janet foi direto ao ponto.

 — Um dos participantes de alto nível abandonou no último minuto, e as filmagens começam em três dias. A empresa-mãe da emissora — você sabe que eles são donos da revista, querida — decidiu colocar alguém de dentro no programa para dar uma experiência exclusiva de primeira mão para a coisa toda.

— Você pode correr? Nadar? – Matlock me perguntou.

Meu coração afundou e meu estômago se revolveu.

— Eu não quero aparecer na TV. — Céus, não. Ver meu nome ridicularizado e insultado na mesma revista onde eu escrevia toda semana, zombando e insultando os outros? Não, obrigada.

— Há um contrato de livro lucrativo anexado para depois do programa — adicionou Janet, com uma voz maliciosa. — Com um empurrão garantido em todas as maiores mídias.

— E um especial de TV — acrescentou Jim.

Um contrato de livro? Eu engoli em seco. Seria um monte de dinheiro. Um monte. E notoriedade.

Dinheiro e fama, sempre de mãos dadas. Olhei para Janet, mas seu queixo delgado estava pressionado firmemente, me dizendo que se eu recusasse, não teria muita mais atribuições na MediaWeek — se é que teria mais alguma. Não que ela pudesse me despedir se eu recusasse... mas ela podia convenientemente me colocar para fora ao longo do tempo.

Vamos ver: fama, fortuna e seis semanas na ilha da miséria comendo insetos? Ou sem fama, sem fortuna, e com uma chefe extremamente irritada?

Engoli em seco.

— Por que eu de toda equipe? Por que não o Roger? Ou o Tim? — Ambos eram bonitos, jovens, atléticos e gays. Tim era meu melhor amigo e um queridinho da mídia, se houvesse um. Eu, nem tanto. Tendia a me misturar com o papel de parede, e preferia que fosse assim.

— Precisamos de uma participante do sexo feminino — disse Matlock sem hesitação. — Como a que nós perdemos. Precisamos equilibrar as equipes. Jovem e razoavelmente atraente ajuda também.

Isso fechava um pouco o cerco. Mabel, que fazia as palavras cruzadas, e Gertie, que montava os guias de TV, não seriam boas escolhas. Todas as outras que eu podia pensar tinham filhos pequenos, então eu era a única candidata. Mas era realmente irritante que continuassem dizendo “razoavelmente”. Fazia-me sentir como seu último recurso.

— Esse é o acordo, — disse Janet, em um tom brusco. — Você vai lá e se junta a esse pequeno game show e não conta a ninguém sobre o acordo.  Vai se encontrar com os assistentes de produção que vão permitir que você grave um vídeo todo dia, para o uso exclusivo da MediaWeek. Você fica até que seja votada para sair, e quando voltar, faz a turnê de divulgação como uma boa menina, escreve seus artigos e nos dá uma visão interna exclusiva, e então escreve seu livro.  Isso dará a MediaWeek uma boa alavancagem e publicidade gratuita, e o programa de Matlock recebe um impulso também. É isso o que a empresa-mãe quer. Você entendeu?

Entendi. Meio que parecia como se a coisa inteira tivesse sido acertada bem antes de eu sequer entrar naquela sala. Olhei para Matlock e encontrei-o estudando minha aparência de novo. Tive que resistir à urgência de cobrir meu corpo com as mãos e me encobrir.

— Eu estou, hm... não muito familiarizada com o programa. Por quanto tempo eu ficaria lá?

— Seis semanas se ficar até o final. Alguém será eliminado a cada quatro dias. O programa começa com vinte e quatro pessoas, tendo quinze eliminatórias no total. Depois de sete eliminatórias por equipe, vamos reduzir para eliminatórias individuais para os últimos dez e dois participantes vão para a rodada final pelos dois milhões de dólares.

Puta merda. Dois milhões de dólares em jogo. Eu me senti um pouco tonta.

— Eu posso ganhar?

— Possivelmente. Você vai ter que ser muito boa. – Ele me deu um leve sorriso de satisfação.

Interessante. Eles me dariam uma chance de ganhar os dois milhões? De repente, eu estava muito mais interessada.

— E se eu for a primeira votada para sair?

— Não vai ser — ele disse. Mais uma vez o sorriso condescendente. — Além disso, se você for eliminada cedo, pode nos dar uma visão dos bastidores do Alojamento dos Perdedores.

Encarei Janet e ela estava me dando um olhar mortal. Inferno Tropical ou Inferno Editorial. Areia na fenda do meu biquíni todo dia por dois meses ou Janet no meu pé pelo resto da vida.

Olhei para Matlock e dei de ombros.

— Ok, então, vamos tentar.

— É isso aí, garota — ele comemorou, e Janet sorriu presunçosamente.

É, alegria. Uhul. Eu na TV.

—✰—


Os dois dias seguintes foram um turbilhão, mas a revista estava lá para ajudar. Havia eventos a cobrir e coisas a serem preparados ou redesignados (meus artigos semanais), um gato para despachar (deixado na casa de Tim), contas a serem pagas antecipadamente (assim eu ainda teria uma casa quando voltasse), e uma rodada sem fim de exames médicos e vacinas para o programa. Bem quando estava precisando de um cochilo — ou fugir gritando de tudo isso —, eu estava me arrastando para um avião fretado e voando para Auckland, na Nova Zelândia. Mesmo durante o voo, havia uma assistente que não me deixava em paz, me fazendo assinar formulários e termos de isenção e fazendo milhares de perguntas. Nenhum tipo de informação era sagrado — desde a última vez que fiquei menstruada, meu tipo sanguíneo, o tamanho da minha roupa de banho, se eu precisava de uma depilação antes de filmar o programa.

Confesso que não era muito fã de depilação à cera, mas foi uma das coisas que eu tive que encaixar no meu horário apertado antes de viajar.

A cada momento eu sentia minha ansiedade aumentando, a sensação que tinha era de que estava indo ser lançada na arena de Jogos Vorazes. As coisas só ficavam piores enquanto progredia. Cada vez que eu fazia uma concessão, tinha que aceitar três mais. Enquanto esperávamos pelo avião que nos levaria para as Ilhas Cook, a assistente me entregou outra coisa.

— E aqui está sua bagagem de roupa para as próximas seis semanas.

Parecia muito, muito pequena. Incomodada, eu peguei e comecei a vasculhar. Os tecidos que tocavam minha mão eram macios, como lycra. Roupas de banho, eu supus, e uma blusa ou duas. Nada quente, nada que realmente cobrisse o corpo. Muito gentil da parte deles.

— Ótimo, obrigada. — Meu entusiasmo era evidente na minha voz.

— Precisa se trocar antes de embarcarmos — ela cantarolou para mim, radiante, e me levou para o banheiro mais próximo. — Livre-se dessas roupas velhas e coloque o que nós providenciamos para você. Temos patrocinadores e você tem que usar os logotipos.

Fazia sentido, mesmo que eu não estivesse empolgada para isso. Claro, eu descobri a seguir que o programa ia ser uma lição de humildade e identidade.

A blusa que eu peguei? Rosa choque, vibrante, com meu nome — — estampado na frente e atrás em letras brancas em negrito. Imaginei que era para ajudar a audiência a nos identificar facilmente. Adorável. Com uma careta, descartei a blusa e vasculhei a bolsa novamente. Um biquíni de cortininha — igualmente rosa. Nome igualmente berrante na parte de trás da calcinha. Essa era outra peça que definitivamente não ia ter muito uso. Eu a descartei também.

No fundo da bolsa, havia mais um biquíni em um estilo diferente, e um tankini — aquelas roupas de banho que a parte de cima parece uma blusa. Tudo no mesmo desagradável tom de rosa e com meu nome espalhafatoso no peito. Também tinha um par de sapatos de natação e um de tênis. E era isso.

Seis semanas de roupa de praia. Eles estavam brincando, né?

 


N/A: Olha eu aqui de novo! xD
Essa fic é uma adaptação de uma história não publicada aqui no Brasil.
Querem saber o que vai acontecer? Eu também -q :D


 

Capítulo 2
Dia Um

 

A venda nos olhos fez um excelente trabalho — eu não vi o rosto de ninguém. Podia ouvi-los e sentir seu cheiro ao meu redor, entretanto. Uma fraca mistura de colônias, desodorantes e um perfume floral que grudou nas minhas narinas, enquanto o avião aterrissava. Nós fomos empurrados para fora, as vendas intactas, e guiados a um barco. O motor zumbia enquanto éramos levados pelas águas, as ondas batendo contra as laterais do barco. Eu sentei com minha pequena bagagem de roupa no colo, minhas pernas pressionadas contra dois outros pares de pernas, um de cada lado.

Eu percebi uma movimentação na parte da frente do barco, e ouvi o motor desligar.

A brisa bagunçava meu cabelo gentilmente, um sinal de que tínhamos diminuído ou parado nas águas. Eu escutei o estalo do microfone, e a tripulação conversando em voz baixa.

— Estamos prontos? — chamou uma voz masculina familiar, excessivamente cadenciada. Tentei lembrar de onde a conhecia, mas não consegui.

— Pronto — entoou outra pessoa. — Em três... dois... um...

— Bem-vindos — trovejou o apresentador, tão alto que eu saltei ligeiramente no assento, meus nervos no limite. — Bem-vindos à Ilha da Resistência! Nós estamos aqui nas famosas Ilhas Cook, lar da pirataria e praias privadas. Este será o lar de vocês pelas próximas seis semanas, desde que possam resistir a todos os desafios que a Ilha da Resistência preparou para vocês! Quem está pronto para resistir?

O silêncio encontrou sua pergunta. Alguém tossiu.

— Corta, corta — gritou o apresentador, irritado. — Deveriam responder quando eu falar com vocês. Ânimo!

— Achei que nós não devíamos falar até chegarmos à ilha — disse uma alma corajosa, uma mulher,  à minha esquerda.

— Quando eu perguntar algo, vocês respondem, entenderam? — disse homem obviamente desagradado.

Uma onda de murmúrios atravessou o barco e, depois de um rápido ensaio, nós tentamos novamente. Dessa vez, quando a voz do apresentador gritou “Quem está pronto para resistir?”, nós gritamos e aplaudimos como idiotas.

Eu só esperava que a câmera não estivesse no meu rosto naquele momento, ou pegaria minha expressão de desgosto.

— Eu sou Chuck Bluntzer, astro da sitcom de sucesso da Family TV, Too Full Of A House!

Ahá.  Foi onde eu ouvi aquela voz irritante antes. A imagem de um homem magrelo, loiro e que fazia lembrar uma garça atravessou minha mente, e eu sorri ironicamente. Eu tinha dado ao horrível escritor-fantasma das memórias do sr. Bluntzer um F, e ele me escreveu uma carta desagradável em resposta.

Sessenta dias de diversão chegando. Yay.

— O primeiro desafio está prestes a começar — gritou Chuck em uma voz excessivamente excitada. Eu fiquei tensa, me endireitando no assento. — Quando eu disser ‘Já’, vocês vão tirar suas vendas e pegar um dos itens de luxo na mesa no centro do barco. Cada um só pode pegar um item. Daí, vocês vão nadar até a praia. A primeira pessoa a chegar em terra e tocar o gongo vai ganhar um prêmio adicional especial. Estão todos prontos?

Merda! Não, eu não estava pronta. Ainda estava de tênis, e estava usando muitas camadas—

— Tirem suas máscaras! Já! Ilha da Resistência começa agora!

Eu arranquei minha máscara ao mesmo tempo em que os outros, os corpos voando em movimento.

Alguém me acotovelou no rosto, e as pessoas se impulsionaram para frente, tentando chegar ao meio do barco, onde a mesa havia sido colocada.

Eu estava meio passo atrás de todo mundo. Na minha urgência de alcançar, eu pisei em falso e tropecei na máscara descartada de alguém, batendo de encontro à prensa de corpos a minha frente.

A mesa caiu para frente, derrubando todo o conteúdo no chão, e o frenesi piorou.

— Sua idiota estúpida! — um cara mais velho gritou para mim.

— Ei, vai se foder! — gritei de volta, então lembrei que não deveria xingar na TV. Ops.

Eu empurrei meu caminho para frente com todos os outros, e eles me empurraram de volta, como em uma roda-punk¹. Alguém estava pisando no meu cadarço e fui lançada ao solo, minhas palmas batendo contra o chão do barco.


¹Roda-punk: consiste numa forma de dança associada à gêneros musicais mais agressivos como o punk rock e o heavy metal. Nesta dança os participantes fazem movimentos bruscos como cotoveladas e joelhadas, pulam, correm, empurram e colidem entre si dentro de uma área circular delimitada.



Um objeto pesado bateu contra meu sapato. Eu o alcancei e peguei, sem me importar com o que era a essa altura— uma pessoa na outra extremidade do navio tinha acabado de se lançar na água e estava nadando para a costa. Enfiei o pote pesado na minha mochila, pendurei-a no ombro e corri para frente do barco com os outros.

Eu fui a terceira a entrar na água, um homem e uma mulher nadavam à minha frente com movimentos frenéticos.  Ajustei a mochila nos ombros e mergulhei no mar, me impulsionando para frente.

Alguém esbarrou em mim, pisando no meu ombro, e pegou impulso para longe. Eu afundei, quase engolindo água, e me impulsionei de volta para a superfície, com a intenção de dar uns bons gritos com o idiota que basicamente me usou como cama elástica.

Eu vi um borrão de azul, e então ele se foi, movendo-se pela água em um ritmo profano, seus movimentos constantes e poderosos. Azul escuro, pensei comigo mesma, limpando a água salgada dos meus olhos, enquanto respirava profundamente. Eu me lembraria disso. Apesar de não saber nado de peito, consegui manter um ritmo calmo e fácil quando comecei a nadar para a praia.

— Alguém me ajude a nadar! — gritou uma garota no meu ouvido, e a próxima coisa que eu soube era que ela estava agarrada na minha mochila. — Me ajude a nadar! Vou me afogar!

“Não brinca,” eu queria gritar em seu ouvido. Sua agitação violenta estava me empurrando para baixo. Ainda assim, achei que não ficaria bem se eu deixasse uma vadia louca se afogar no primeiro dia, então enganchei seu braço com o meu e a arrastei comigo até a costa. Não tinha ido muito longe, quand uma horda de pessoas já surgia sobre as areias pálidas, o Azul Escuro na liderança.

Ah, tudo bem. Eu nem queria aquele item extra mesmo.

Pouco tempo depois, havíamos alcançado águas rasas o suficiente para que pudéssemos caminhar pelo solo arenoso do oceano. Eu continuei a ajudar a garota loira, embora uma breve olhada ao redor tenha mostrado que havíamos ficado para trás. Como se sentisse que não precisava mais de mim, a Loira me deu um forte empurrão.

— Fique longe de mim, sua perdedora! Não vou mais ajudar você!

Minha boca submergiu e, quando ela espirrou água em mim, eu engoli um monte de água salgada. Tossindo, eu não pude protestar que havia sido eu a arrastar aquela bunda magrela ingrata dela até a praia, algo que ela tinha esquecido de contar para as duas dúzias de pessoas na praia— todas olhando para nós.

Esta foi minha grande entrada para o jogo— arrastando meu corpo encharcado e exausto para a praia, em último lugar, tossindo na mesma intensidade de uma tempestade tropical. Adorável.

Uma garota tropeçou na minha direção, jogando areia na minha cara, enquanto eu me deitava no solo.

— Ave Maria — ela guinchou em voz alta com um forte sotaque sulista. — Vocês aí, acho que ela precisa de cuidado médico.

— Eu estou bem — tentei protestar entre tosses, mas tinha engolido um bom litro de água salgada, que ainda parecia determinada a fazer o caminho de volta pela minha garganta.

— Ela só engoliu um pouco de água — disse uma voz masculina arrogante. — Deixe-a lidar com isso. Nós estamos aqui para uma competição—

— Eu sei — interrompeu a garota do sul. — Mas ela obviamente não é muito atlética. Você viu as coxas dela?

Eu tossi e puxei minha camisa molhada para baixo, sobre minhas coxas. Minhas coxas não eram gordas! Elas eram só… coxas de uma garota normal. E não as varetas bronzeadas e bem torneadas que a Candy (de acordo com a parte de cima do seu biquíni) tinha.

— Talvez ela tenha ganhado peso deliberadamente para o programa — se intrometeu uma garota com sotaque de Boston.

Todos os olhos se voltaram para mim.

 Não estávamos na ilha nem há dez minutos, e eu já queria me esconder de vergonha. Eu ainda estava tossindo, então fiz o melhor que podia — mostrei para eles o dedo do meio.

— Ela está bem — disse novamente a voz masculina, sarcástico.

Eu seria capaz de apostar que aquela voz pertencia ao Azul Escuro.

Os outros me ignoraram depois disso, a maioria deles reunindo-se ao redor de um Adonis alto e ligeiramente bronzeado. Ele usava uma camisa — sim, azul-escura — com a palavra “ ” estampada no peito molhado, e estava trocando apertos de mãos com os outros caras.

Meu inimigo.

— Bom trabalho — cumprimentavam-no, cobrindo-o com elogios como se ele tivesse de repente descoberto a paz mundial ao invés de aterrar em primeiro lugar numa competição de natação. Claro, ele exibia um sorriso branco presunçoso, que me dizia que estava acostumado a ter lisonjas se amontoando sobre si.

Eu o odiei à primeira vista. Que ele se danasse.

Não importava se era um dos homens mais gostosos que eu já tinha visto, e se era a personificação de todas as minhas fantasias molhadas.

Ele carregava um machado nas mãos, girando-a com casual habilidade — o prêmio óbvio deste mini desafio. As equipes de filmagem já estavam todas na praia, mantendo certa distância, enquanto circulávamos nos apresentando estranhamente uns aos outros.

Praticamente todo mundo me ignorou. Eu tirei aqueles momentos para fazer um inventário do que tinha pegado da mesa. Vasculhando a minha mochila encharcada, eu peguei a vasilha pesada que parecera uma bola de boliche contra minhas costas enquanto eu nadava.

Manteiga de amendoim. Um pote bem grande, pesado de manteiga de amendoim espesso. Absurdamente contente com isso, eu sorri e coloquei de volta na mochila. Alimento e proteína. Uma ótima arma secreta para ter no meu estoque. Olhei furtivamente por cima do ombro, e notei que o Adonis estava prestando atenção na minha inspeção. Eu fechei a cara para ele e terminei de guardar o pote, ignorando o sorriso arrogante no seu rosto.

Eu o odiava. Cinco minutos na ilha e eu já sabia em quem votaria primeiro. Chuck chegou um pouco depois, dando-nos seu melhor sorriso de Papai Hollywood e dramatizando para a câmera. Ele gesticulou para uma longa fileira de círculos à distância e nós seguimos para os discos coloridos, escolhendo os lugares aleatoriamente— discos rosas para as mulheres e azul claro para os homens. Assim que cada um estava em seu próprio círculo, molhados, cheios de areia e despenteados, as câmeras se aproximaram e Chuck começou a falar novamente.

— Agora que todos vocês tiveram a chance de dar uma boa olhada uns nos outros, é hora de escolher as equipes.

Um coro de aplausos se ergueu da pequena multidão reunida. Eu bati palmas lentamente, esperando para ouvir o que ele tinha a dizer.

— Vamos ter um flashback da infância com nosso método de escolha. Quem ganhou o prêmio bônus? — Chuck esticou o pescoço e passou os olhos por nós, como se não fosse óbvio que o Adonis —desculpe, — tivesse ganhado, a julgar pela bajulação dos outros.

? Pode vir à frente, por favor?

O deus bronzeado assim o fez, lançando um rápido sorriso para o resto de nós, e se moveu para ficar ao lado do apresentador. Chuck colocou o braço ao redor dos seus ombros.

, já que ganhou o prêmio especial, eu quero que você entregue estas placas para o resto dos participantes. — Enquanto obedecia, Chuck continuou falando. — Quero que todos escrevam sua profissão na placa e a segurem na frente do peito. Os homens vão escolher suas parceiras.

— Parceiras? — falou, e Chuck deu a ele uma carranca sutil. Eu acho que nós não deveríamos interromper o apresentador.

— Parceiras — ecoou Chuck, falando mais alto. — Vamos dividi-los em equipes de dois, um homem e uma mulher.

Que porra era essa, Namoro Na TV?

Os outros começaram a escrever nos seus quadros com um pedaço de giz, e eu olhei para o meu. O que escrever? Jornalista? Escritora? Não importava, qualquer opção me faria parecer ainda menos atlética. Depois de um momento de introspecção, eu me decidi por “Crítica Literária” e virei meu quadro. Eu espiei ao redor, imaginando se minhas suspeitas estavam corretas.

Nas outras placas lia-se, em ordem: Ex-Militar, Atriz, Modelo de Biquíni, Universitária, Conselheira de Acampamento, Playmate², Dublê Acrobata e Médica Residente. Uma mulher mais baixa tinha escrito “Ginasta” e outra escreveu “Biologista Marítima” (sic³). Dez dólares que ela não era uma— fora o erro óbvio, aqueles enormes seios falsos tornariam impossíveis para ela ficar debaixo d’água.


²Playmate: modelos da Playboy que são nomeadas durante o ano com o título de "Playmate do mês”. Uma delas é depois nomeada "Playmate do ano".
³(sic): indica que o texto original está reproduzido exatamente, por errado ou estranho que possa parecer.



Minha companheira que tinha insistido para que eu a arrastasse para a praia, só para zombar de mim quando acabei de salvar sua bunda? “Modelo Aspirante”.

Os homens sortearam números e se rearranjaram na areia com bandeiras tribais retratando o número de suas equipes. Para minha intensa satisfação, o querido tinha ficado com o número 11 — de 12 —, algo que obviamente não assentava muito bem com ele. tinha uma expressão amarga no rosto, para o meu deleite.

Eu deduzi que o número um — um cara com o peito cheio de tatuagens e uma argola no nariz — ia escolher a ginasta (duas em uma: fantasia masculina e atletismo).

— Vou ficar com a Coelhinha da Playboy — ele disse e abriu um sorriso.

A coelhinha — minha outra inimiga, Candy — riu e saltitou até ficar ao lado dele na areia. A ex-militar, Tara, fez um ruído de descrença, e eu tive que concordar. Quem imaginaria que a garota com as grandes tetas de silicone e um sotaque sulista seria escolhida em vez de uma ginasta e uma dublê acrobática em uma competição de sobrevivência?

O seguinte pegou a “Biologista Marítima”. Isso estava se transformando em uma comédia ao invés de um programa de sobrevivência. Gostosura parecia ser o fator chave aqui.

As três seguintes a serem escolhidas foram as mais óbvias — Tara, a ex-militar, Haley, a ginasta, e Brandy, a dublê. Os parceiros delas pareciam aliviados com as escolhas dos seus antecessores. Logo, era a vez de escolher, e não sobrava ninguém além de mim e Raika no final da linha, ainda segurando sua placa de Modelo Aspirante e exibindo a todos seu sorriso ensolarado.

Ah, droga.

Eu tinha um palpite de que eu ficaria por último — e o cara no final da fila que seria meu parceiro parecia ser a exceção para o “jovem e razoavelmente atraente” que os produtores tinham buscado. Ele era mais velho que os outros, tinha uma juba de cachos desordenados que desciam pelas costas, e a barba mais comprida que eu já tinha visto. Eu não conseguia ler seu nome, já sua barba era tão longa que cobria.

Sentia-me visivelmente desanimada à vista dele, e meu olhar se voltou para , que parecia estar tendo uma igualmente difícil crise de decisão. Ele olhou para Raika, então de volta para mim, então de volta para Raika novamente, como se pesando suas opções.

Oh, Céus. Eu com certeza não queria ficar presa a .

Claro, o Barbudo tinha cara de que não duraria uma semana ali, mas eu o escolheria em vez do idiota arrogante sem pensar duas vezes. Não que a escolha fosse minha.

deu um suspiro e colocou as mãos nos quadris, olhando para o apresentador. Eu sabia que ele tinha tomado uma decisão. Seu olhar tinha se demorado em Raika, e ela piscou para ele e deu seu melhor sorriso sensual. E quando ele olhou para mim? Eu franzi o cenho e cruzei os braços sobre o peito.

— Vou ficar com a bravinha. . — Ele parecia tão entusiasmado com isso quanto eu.

Eu admito, meu queixo caiu um pouco. Assim como o de Raika.

— Tem certeza? — perguntou Chuck, como se ele também não pudesse acreditar.

— Caramba, Chuck, obrigada — exclamei com uma voz excessivamente doce e desci do círculo.

— Eu tenho certeza — respondeu , sua voz de garoto arrogante voltando, e eu dei a ele meu maior, mais falso sorriso de modelo. Enquanto Raika estava lá de pé, eu fiz o meu melhor para parecer agradada por ter sido escolhida. Agarrei minha mochila e caminhei na areia— aliás, com meus sapatos molhados e pesados, estava mais para cambaleei na areia.

parecia contrariado enquanto eu cambaleava para seu lado, e Raika se moveu para o lado do Motoqueiro Barbudo, parecendo igualmente confusa que sua gostosura tenha sido passada para trás por um trapo humano conhecido como eu.

— Bem-vindos à Ilha da Resistência — gritou Chuck novamente, uma frase que eu já estava ficando cansada de ouvir. — Os mapas para os acampamentos estão amarrados nas suas bandeiras. Encaminhem-se para lá e nós os veremos no próximo desafio!

se virou e olhou para mim, me dando seu sorriso torto de comercial de pasta de dentes, sem dúvidas cuidadosamente calculado para fazer corações se agitarem e calcinhas caírem.

— Parece que vai ser só você e eu pelos próximos dias.

— Ótimo — eu disse, em um tom de voz que deixava claro que era tudo menos isso. — Agora você quer me dizer por que me escolheu ao invés da Raika?

Ele olhou para ela mais uma vez, então lançou um olhar desdenhoso de volta para mim.

— Ela não sabe nadar.

Uh. Eu tinha que admitir que isso me deixou sem fala, só um pouco. Quero dizer, ele era a última pessoa que eu imaginaria que tivesse notado.

— Além disso — ele disse, enquanto pegava nossa bandeira (número onze da sorte) —, você tem manteiga de amendoim. E agora é nossa manteiga de amendoim.

Obviamente, a manteiga de amendoim era um item de acampamento mais essencial do que eu era.

 


 

Capítulo 3

 

Nós não falamos enquanto caminhávamos ao longo da ilha. Eu não podia pensar em nada civilizado (e suspeitava que ele tinha o mesmo problema), então atravessamos a areia e a vegetação rasteira em silêncio. Passamos por alguns outros acampamentos  — o nosso era do outro lado da ilha graças ao nosso número. Os náufragos que tinham pegado números pares foram levados de barco para outra ilha próxima.

Cinegrafistas se agitavam para dentro e fora da mata, nos seguindo. Já que havíamos sido instruídos a ignorá-los, eu fiz o possível para isso. Inclusive, eles estavam começando a se misturar com a paisagem — a despeito do fato de que constantemente pulavam alguns metros na nossa frente para nos filmar.

— Estou vendo o acampamento lá na frente — disse eventualmente, e eu estiquei meu pescoço para olhar para onde ele estava apontando. Como era de se esperar, um estandarte vermelho com um 11 brilhante tremulava próximo à praia. Quando alcançamos a bandeira, eu franzi a testa. A Ilha da Resistência ia ser mesmo uma resistência, afinal de contas. A bandeira estava plantada na areia no meio do nada, e a única coisa que nos indicava que esse era mesmo nosso acampamento era uma panela de ferro fundido e um pequeno saco de arroz próximos a ela. pausou também à vista disso.

— Lar doce lar, eu imagino. — Ele se virou para olhar para mim.

Eu mordi o lábio. Era isso, ou começar a gritar.

— Acho que o orçamento deve ter sido cortado para esta temporada — brinquei. — Nenhum resort quatro estrelas para nós.

— O programa é sobre sobrevivência — replicou com um tom sarcástico. — O que esperava?

Eu fiquei encarando a parte de trás da sua cabeça, enquanto ele se aventurava pelos arbustos.

— Idiota. — Esses iam ser os dois meses mais longos da minha vida, de longe.

Apesar do idiota que era meu parceiro, eles não poderiam ter escolhido um lugar mais encantador para as filmagens. Ondas calmas banhavam a costa, e a areia que beirava a água era branca e macia. Palmeiras farfalhavam acima de nossas cabeças, balançando com o vento vindo do mar, e tudo ao meu redor era o verde da vegetação e o azul do oceano. Era lindo.

estava fora de vista. Nosso cinegrafista tinha corrido para a praia para tentar encontrá-lo. Pela primeira vez na ilha, eu estava sozinha.

Paraíso. Eu sorri e inspirei profundamente o ar.

Claro, a inteira percepção de “paraíso” me deixou quando, depois de admirar o pôr do sol por alguns minutos, eu notei nuvens pesadas à distância. E percebi que por mais linda que fosse nossa enseada, não havia nenhum lugar onde se abrigar. Meu estômago começou a roncar.

Nós não tínhamos fogo. Nenhuma proteção. Minha pequena mochila de roupas estava ensopada, meus tênis estavam espremendo meus pés, e eu estava com uma sede terrível. Hora de montar acampamento, eu supus. Escolhi um local meio protegido por algumas árvores frondosas e usei um galho caído para varrer a areia, tentando limpar os detritos um local grande o suficiente para um abrigo e uma fogueira. Quando terminei, eu estava suando, suja e grudenta, e tinha conseguido limpar um espaço considerável.

voltou em algum momento, e ficou à distância, me observando. Ele carregava um balde rústico.

— Eu encontrei o poço de água. — Ele o estendeu para mim. — Trouxe uma bebida para você.

Eu olhei para ele, inquieta. Isso era quase legal demais da parte dele para acreditar.

— Obrigada — eu disse em uma voz agradável, e peguei o balde dele. — É seguro beber?

— Você vai descobrir em cerca de meia hora — ele disse com uma careta.

Justo. Eu tomei alguns goles cautelosos então devolvi a ele. A água era salobra, mas ao menos era límpida.

— Devemos tentar ferver o resto. Só por segurança — eu disse, enxugando o queixo com as costas da mão.

— E vamos ferver com o quê? — perguntou, pegando o balde de volta. — Nossas mãos? Mágica?

— Que tal com esse seu temperamento desagradável? — rebati. — Parece estar esquentando muito ultimamente.

— E pode me culpar? — Ele me deu um olhar de desgosto e gesticulou para nosso patético acampamento. — Eu fiquei fora por mais de uma hora e você nem tentou começar uma fogueira. O que exatamente ficou fazendo?

— Montando acampamento!

Ele deu uma rápida e exagerada olhada ao redor e abriu os braços.

— Uau, está ótimo. Eu gostei especialmente da cabana que você montou. É incrível.

— Não seja sarcástico, seu idiota. Eu estava limpando a areia, assim nós teríamos um lugar decente para montar o acampamento. Se prefere dormir em cima de um monte de pedras e galhos, sinta-se à vontade! Mas eu vou terminar de fazer um abrigo decente.

— Terminar! Você ainda nem começou, meu bem.

— E não vou nunca, se você não me deixar em paz! — A essa altura, eu estava gritando e gesticulando tanto quanto ele. — Por que não vai fazer alguma coisa de macho e vai matar alguma coisa para o jantar?

Isso pareceu surpreendê-lo.

— Por que nós simplesmente não comemos da sua pasta de amendoim?

Eu balancei a cabeça.

— Não mesmo. Isso é meu. Você tem um machado, eu tenho manteiga de amendoim.

Sua boca se curvou em um sorriso de escárnio que o deixou ainda mais sexy do que ele tinha o direito de ser.

— É assim que vai ser então? O que é seu é seu e o que é meu é meu?

— Se é assim que você quer, ótimo! É assim que vai ser — eu bufei. Que ele se danesse se achava que eu ia compartilhar minha pasta de amendoim, quando tudo o que ele tinha feito era gritar na minha cara. — Você, se mantenha do seu lado do acampamento e eu vou ficar do meu, e nós vamos ver quem se sai melhor, não é?

— Parece bom pra mim. — andou até o meio da área que eu havia limpado e cavou com o calcanhar bem no centro. — Vamos fazer a fogueira aqui. Você pode ficar desse lado, e eu fico do outro.

— Está bom para mim — eu disse na minha voz mais fria. — E você vai fazer a fogueira?

— Não, eu não vou — falou pausadamente. — Estou indo procurar alguma coisa para comer.

— Ótimo então!

— Ótimo!

Nós nos encaramos por mais alguns instantes, e então ele se afastou tempestivamente, levantando areia a cada passada furiosa. Quando ele saiu, eu peguei um vislumbre do cinegrafista, um olhar satisfeito em seu rosto enquanto me filmava de pé no acampamento.

Droga, ele tinha pegado tudo. Que vergonha. Com as bochechas queimando, eu me virei e comecei  a me dirigir para a selva de arbustos para ver o que poderia encontrar.

tinha levado o machado com ele, então eu fui forçada a fazer tudo à mão. Tinha conseguido achar alguns galhos caídos que eram grandes e retos o suficiente para servir como base para a cama que eu ia criar. Usei mais alguns galhos de comprimentos equivalentes que eu coloquei transversalmente, formando uma cama muito lamentável, dura e desconfortável alguns centímetros acima do chão. Mas pelo menos era fora da areia (que eu suspeitava ficava cheia de pulgas do mar e caranguejos assim que o sol se punha).

Para compensar o desconforto da minha cama, eu peguei tantas folhas — incluindo as de palmeiras — quanto pude,  ajeitando-as na minha cama improvisada. Quando consegui empilhar vários centímetros de enchimento, eu sentei na cama para testá-la. Assim como esperado, as folhas se achataram sob meu peso, mas minha cama agora estava ao menos moderadamente macia. Ia servir por enquanto.

No momento em que o sol se pós totalmente, eu já tinha reunido galhos secos suficiente para uma fogueira e cavado o buraco, mas estava cansada demais para sequer tentar fazer fogo.  Eu deitei na cama estreita e olhei para as estrelas intensamente belas lá no alto, usando minha bolsa — não muito confortável — como travesseiro.

Era enervante se deitar no escuro, sozinha, com coisas rastejando e farfalhando em seu ambiente natural. Tentei não pensar em como não tinha um teto sobre a minha cabeça, ou qualquer proteção real de nada. Eu podia puxar uma folha de palmeira para cima da minha cabeça se chovesse, mas se alguma coisa tentasse me atacar? Eu estava muito bem posicionada para me tornar uma refeição.

A vegetação rasteira farfalhou de forma alarmante, e eu olhei por cima da minha cama para ver retornando ao acampamento, movendo o machado nas mãos de uma maneira quase frustrada. Eu não podia ver seu rosto, mas seus ombros pareciam tensos, e eu fiquei um pouco mais alegre do que deveria. Ele não tinha achado nada para comer também. Bati no pote de pasta de amendoim debaixo da minha cabeça. Eu estava com fome agora, mas não com tanta fome para revelar meu esconderijo. Poderia esperar até amanhã.

Ele tropeçou na escuridão.

— Sem fogo, pelo visto.

— É.

Tinha certeza de que ele queria dizer mais alguma coisa, mas não o fez. À distância, eu via os pequenos pontos vermelhos significando que nosso cameraman ainda estava lá, filmando, e eu olhei para novamente.

Ele estava sacudindo algo longo e espesso, que soava como tecido... um cobertor?

Sentei-me na minha cama dura e farfalhante.

— Onde conseguiu isso?

Na escuridão, eu só podia imaginar que ele estava esticando-o no chão abaixo de si, e então se deitando para dormir.

— Foi meu prêmio. Você sabe, como a pasta de amendoim foi o seu. E do mesmo modo, não é para ser compartilhado.

Desgraçado. Esfreguei os braços arrepiados. Ao menos ele tinha mais que alguns biquínis rosas para usar, e estava esfriando. Tudo o mais que eu tinha estava esticado sobre os arbustos, e eu esperava que estivessem secos pela manhã.

— Eu não preciso do seu cobertor — retruquei. — Nem está muito frio.

— Ainda não — ele concedeu em uma voz suspeitosamente amável. — Boa noite.

Irritada, eu caí de costas nas minhas folhas de palmeira e tentei ficar confortável. Foi a noite mais longa, mais miserável da minha vida. estava certo— fez mais frio.

Extremamente frio.  E ficou ainda pior em algum momento no meio da noite, quando o tempo fechou e começou a chuviscar. Meus dentes batiam, enquanto eu tremia, encolhida.

Pelo menos não estava muito melhor. Durante toda a noite, eu podia ouvi-lo se movendo e se coçando, e eu sabia que as pulgas do mar e outros insetos asquerosos o estavam enlouquecendo. Duvidava que ele tivesse dormido muito. Claro, eu não estava prestes a convidá-lo para se juntar a mim na cama rústica. Que se danasse. Não havia espaço suficiente de qualquer modo, e eu não ia dormir de conchinha com meu inimigo durante a noite inteira, mesmo que ele tivesse um monte de calor corporal.

A manhã finalmente chegou depois de uma quantidade infinita de horas mais tarde e, com ela, um ligeiro aquecimento do ar. Só o suficiente para que meus dentes parassem de ranger, mas não o bastante para me reanimar. Eu me sentia quebrada e exausta, e suja. Olhei para no lado mais distante do nosso pequeno acampamento, e seu cabelo espetado em ângulos estranhos, e ele parecia tão dolorido quanto eu.

Bom. Pelo menos eu não estava sozinha na minha miséria. Ele apontou com a cabeça para alguma coisa ao longe.

— O que é aquilo?

Olhei para onde ele havia indicado. Em algum momento da noite, alguém da equipe de produção tinha invadido nosso lar. Uma pequena caixa vermelha havia aparecido sobre um toco na extremidade do acampamento. Eu andei até ela, puxando uma folha úmida que havia grudado na parte de trás da minha perna.

“Convocações Tribais” lia-se na tampa, eu a ergui e vi o papel que estava dentro da caixa. “Desafio de hoje.”

Eu grunhi e a soltei de volta no chão.

— Má notícia.

 


N/A: Okaay, estes dois últimos capítulos não ficaram muito bem escritos, desculpem por isso :B
Então, agora que eles são uma equipe - e mal se toleram - como será que vão se sair no primeiro desafio real da Ilha da Resistência?
Não percam os próximos capítulos! :3


 

Capítulo 4
Dia Dois

 

Um pequeno barco veio para nos pegar e nos levar para a Ilha do Desafio. Eu usava meu tankini e o tênis ainda encharcado (graças à chuva) e mantive a bolsa aos meus pés, já que a mensagem havia instruído para levarmos nossas posses.

— Prova Eliminatória — havia dito, e eu achava que ele estava certo.

Chegamos ao mesmo tempo em que as outras equipes. Doze mesas estavam dispostas no extremo da praia, cada um de uma cor diferente. Cada equipe caminhou até sua mesa e plantou sua bandeira, se virando em seguida para o apresentador, aguardando instruções.

— Olá, pessoal! Todo mundo dormiu bem? — Chuck nos deu um sorriso alegre.  — Como foi a primeira noite na praia?

— Foi maravilhoso — Candy esticou a fala no final. — Leon é um ótimo parceiro.

— Todo mundo se dando bem com seus parceiros, então? — O olhar de Chuck deslizou pela fileira e se concentrou em mim.

— Maravilhosamente — eu disse apaticamente.

— Parceria — Chuck entoou em tom condescendente. — É muito importante em uma situação de sobrevivência, e é sobre isso o desafio de hoje! Cada equipe vai pintar uma série de figuras nas bandeiras que estão diante de vocês. Estas imagens estão relacionadas à história das Ilhas Cook e aos povos nativos. Vocês terão cinco minutos para completar o maior número de bandeiras possível, com a maior precisão possível. Um juri irá avaliar e determinar quais dois grupos têm as piores bandeiras. Esses dois grupos irão a julgamento esta noite, onde as outras equipes vão decidir em qual deles votar para sair. Entendido?

Nós assentimos em concordância, e Chuck continuou:

— Vai ser assim. Uma pessoa de cada equipe terá os olhos vendados. Essa pessoa fará a pintura. O outro será o interlocutor, que, quando eu disser “já”, vai rasgar o pacote selado para descobrir as fotos. O interlocutor então descreve cada foto para seu parceiro. Vocês terão que trabalhar em equipe — enfatizou, e repetiu mais uma vez só para o caso de que fôssemos surdos. — Vocês terão que trabalhar em equipe. A parceria é a chave para este desafio. Eu vou dar um momento a vocês para definirem as estratégias.

olhou para mim.

— Você sabe usar um pincel?

Eu o encarei.

— Por que tem que ser eu a pintar? Porque eu sou a garota?

Ele me deu um olhar exasperado, e parecia tão cansado e irritadiço quanto eu me sentia.

— Olha, será que você pode tentar não voar na minha garganta só por um desafio, por favor? É assim tão difícil?

— Tudo bem — eu concedi, sentindo só um pouquinho de culpa por estar sendo difícil de lidar.

— Bom — ele enfatizou.

E assim, minha boa vontade desapareceu. Eu trinquei os dentes, quando ele se colocou atrás de mim para amarrar minha venda, e acidentalmente enlaçou alguns fios de cabelo no nó. Isso só me irritou ainda mais, especialmente já que ele estava agindo todo presunçoso e arrogante enquanto amarrava meu braço nas costas e me tratava como uma criança.

Eu o odiei tanto naquele momento.

— As equipes estão prontas? — Ouvi a voz de Chuck chamar. Eu ergui a cabeça, fios de luz solar aparecendo sob a escuridão da faixa. O dia estava ficando quente, e o suor começava a fazer a venda pinicar no meu rosto. Eu podia ouvir os outros participantes se movimentando e cochichando, preparando-se para a competição. Uma mão forte e quente agarrou a minha mão livre e empurrou um pincel nela.

— Aqui — disse apressadamente.

— Pronto, vamos começar! — chamou Chuck mais uma vez. — Vocês terão cinco minutos a partir de... AGORA!

Com isso, eu ouvi o som de uma dúzia de pacotes de papel sendo rasgados, e eu inclinei a cabeça tentando decidir qual deles era meu parceiro.

— É uma tartaruga — gritou no meu ouvido, me dando um susto tão grande que eu pulei e deixei cair o pincel.

— Você me assustou—

— Pegue o pincel! Pegue o pincel! — A voz de adquiriu uma ponta impaciente. — Eu não posso pegar o pincel para você, . Pegue o pincel! Está no chão!

E ali estávamos nós com um ótimo começo. Com a mão livre, eu me ajoelhei debaixo da mesa, tateando ao redor. Nada de pincel.

— Depressa, — disse meu parceiro solícito. — Você precisa desenhar essa maldita tartaruga.

— Eu não consigo encontrar o pincel — disse a ele, tentando ser paciente.

— Está no chão.

— Eu estou no chão, seu idiota, e não consigo achá-lo. Onde no chão? Eu estou vendada, se lembra?

Ele pausou por um momento.

— À esquerda da sua mão — ele finalmente instruiu. — Agora, pega isso logo!

Depois de outro momento infinitamente longo de busca, eu senti o comprimento suave do pincel e passei os dedos ao redor dele, me erguendo de um salto... e batendo a parte de trás da cabeça na mesa com tanta força que eu quase desmaiei. A dor permeou pela minha cabeça, e estrelas cintilaram na frente dos meus olhos. Eu gemi de dor.

— Levante-se! Depressa!

Eu estremeci e fiz uma anotação mental para matá-lo. Lentamente, eu me impulsionei de volta para cima e tentei me reorientar. As pessoas estavam gritando e tagarelando ao redor de mim, tornando difícil me concentrar na voz irritante de .

— Tartaruga — ele repetiu, seu tom urgente. — Desenhe uma tartaruga.

Eu bati o pincel contra o tecido e desenhei um círculo.

— Não tem tinta no pincel! — ele gritou no meu ouvido. — Você precisa de tinta para a tartaruga! Tinta verde!

Eu estava começando a ver porque era um desafio de trabalho em equipe. Irritada, eu toquei as cerdas do pincel. Completamente secas.

— Então onde está a tinta?

— Do seu lado — ele disse. — Esquerda, esquerda, esquerda — gritava enquanto minha mão tateava pela tinta. Não houve nada por longos, longos segundos e então eu encontrei um copo grande de algo molhado. Eu peguei o pincel e comecei a mergulhá-lo.

— Cor errada — grunhiu. — Essa é a vermelha!

— Você deveria me dizer para onde ir, seu idiota — gritei de volta para ele. — Eu estou com os olhos vendados, não posso ver as cores!

— Você tem que perguntar então!

— Estou perguntando agora!

— E eu estou te dizendo, não é essa! Avance dois potes!

Ah, claro! Fácil para ele falar. Rangendo os dentes, eu rocei os dedos pelas bordas dos potes até sentir que tinha escolhido o certo, e movi o pincel novamente.

— Eu disse verde! Esse é azul! Você passou! Dois potes, não três.

Argh.  Apertando minha mão com força ao redor do pincel, eu o coloquei dentro da tinta.

— Você está respingando para todo lado — reclamou com uma voz meio impaciente. — Eles vão descontar por isso.

— Estou tentando — eu disse, e desenhei um círculo no tecido. — Como está a tartaruga na foto?

— Tem ondas em cima da cabeça dela, então você vai precisar de tinta azul... não, ainda não, você ainda não terminou a tartaruga. Desenhe as pernas, e desenhe a boca aberta... aberta. Eu disse que aberta... , a boca é aberta...

— Eu estou desenhando aberta!

— Não—

— Vocês têm mais um minuto, equipes — Chuck interrompeu, gritando por cima do murmúrio constante. — Apressem-se!

O tecido foi bruscamente arrancado de baixo do meu pincel.

— Vamos — disse irritado. — Vá para o próximo.

Eu o senti colocar uma nova bandeira de tecido e esticá-lo.

— O que eu desenho nesta?

— Um peixe vermelho. Vamos, , desenhe rápido. Um peixe vermelho—

— Onde está a tinta—

, apresse-se e desenhe.

— Eu não posso desenhar se você não me disser—

, DESENHE — gritou, quase estourando meus tímpanos. — PEGUE O VERMELHO E DESENHE. PARE DE FAZER TANTAS PERGUNTAS E SÓ DESENHE.

Eu soltei o pincel, peguei o pote de tinta mais próximo, e o arremessei no meu parceiro. Eu não ouvi acertar o alvo, então agarrei o próximo, e o próximo, e ouvi os estampidos indicando que atingiram — ao menos, era o que eu esperava.

— Tempo esgotado! — Chuck gritou.

Eu arranquei a venda e encarei meu parceiro. O sr. Atleta Perfeito estava coberto de tinta amarela e vermelha— rapidamente se mesclando em um laranja. Um rastro de azul cobria metade da nossa mesa e parecia que tinha caído tinta na nossa bandeira.  estava olhando para mim com completo desgosto.

— Se você gritar comigo de novo — eu gritei de volta. — Eu vou enfiar essa porra de pincel na sua goela. Entendeu?

Ele me encarou e tirou a tinta do seu rosto, sem dizer nada. Um músculo pulsou em sua mandíbula, mas para meu alívio, ele não retrucou. Em vez disso, virou-se para Chuck, aguardando mais instruções.

Os outros olhavam para nós em estado de choque, os cinegrafistas zagueando ao redor. Não era de admirar — eles tinham ganhado o dia. e eu éramos um clássico exemplo de como não se deve trabalhar em equipe.

— Todos sentem-se por favor com seus parceiros, e nós vamos trazer os juízes — Chuck disse em uma voz tranquila. Em pares, os competidores começaram a passar para os bancos de madeira rústica deixados nas proximidades, e eu acompanhei. seguiu atrás de mim, suas roupas cobertas de tinta batendo contra seu corpo. Enquanto nos encaminhávamos para a área designada, a minha fúria deu lugar ao embaraço.

Nós estávamos agindo como crianças.

O constrangimento piorou quando os juízes nativos foram trazidos, e as bandeiras foram erguidas para que cada um visse. As outras equipes não tinham se saído tão mal — um até tinha conseguido pintar todos os quatro desenhos, embora de uma maneira muito aleatória. Quando chegaram à nossa mesa, os juízes olharam para nós dois sentados um em cada ponta do banco, distantes um do outro, meu parceiro pingando tinta amarela, e começaram a sussurrar. Eles ergueram nossa primeira bandeira — um círculo verde com uma grande linha cortando no meio da hora em que tinha puxado o tecido enquanto eu ainda estava pintando — e balançaram suas cabeças. A próxima bandeira era só uma série de manchas vermelhas, amarelas e azuis. Eles menearam a cabeça novamente. Risadas abafadas surgiram dos outros competidores.

Minhas bochechas queimaram de vergonha. Olhei para . Ele olhou para mim também, limpou um punhado de tinta da sua camisa, e então a espalhou por todo meu braço.

Idiota.

— Os juízes avaliaram as equipes, e escolheram as duas piores. Por favor, levantem-se e venham para frente com seus parceiros se eu chamar o número da sua equipe. — Chuck virou-se e olhou diretamente para mim. — Equipe Onze, vocês foram nomeados para o Julgamento.

Ok, nenhuma surpresa aqui. Eu fiquei de pé e me aproximei da pequena área designada como “Julgamento”. Fiquei de frente para um pódio com decoração de coqueiros, e fez o mesmo.

— Equipe número quatro, você foi nomeada para o Julgamento.

Eu não tinha prestado muita atenção nas bandeiras da outra equipe. Todas eram igualmente ruins em minha opinião, embora nenhuma no nível da nossa. A outra equipe avançou, parecendo surpresos e um pouco envergonhados que seu trabalho tivesse sido julgado tão ruim quanto o nosso.

Maldição, até eu ficaria.

Eles se moveram para o outro pódio em frente a nós, e Chuck tomou assento no banco alto no meio, como em algum tipo de tribunal bizarro. O restante das equipes estava arranjado em semicírculo ao nosso redor, e um quadro-negro e giz foi entregue a cada uma delas.

— Bem vindos ao nosso primeiro Dia de Julgamento — anunciou Chuck em voz retumbante. — Hoje, vamos decidir o destino de uma destas duas equipes. Vamos ouvir cada uma, e então as equipes “imunes” que compõe nosso júri irão decidir qual equipe desejam que saia. Lembrem-se que, por enquanto, vocês vão votar por equipe. Mais para frente, as votações serão individuais. Todo mundo entendeu?

Os outros concordaram com entusiasmo.

— Vamos começar com a Equipe Onze — disse Chuck, e virou seu olhar para mim, e então para . — Têm ideia do por que vocês se saíram tão mal no desafio?

— É culpa dele— eu comecei.

— Ela é impossível— ele disse exatamente ao mesmo tempo.

A risada surgiu do nosso público, e eu me virei novamente para . Ele estava me dando o mesmo olhar de maxilar cerrado de antes. Depois de um momento, eu comecei a falar, ainda virada para ele:

— Parece que não conseguimos concordar em nada, Chuck. É isso, puro e simples.

— Nós nem montamos nosso acampamento ainda — acrescentou.

— Não diga isso a eles — eu retruquei. — Não é da conta de ninguém, além da nossa.

só me deu um olhar de repreensão.

Chuck parecia surpreso. Ok, talvez um pouco feliz que estivéssemos nos autodestruindo tão abominavelmente.

— Vocês dois já conseguiram fazer uma fogueira?

— Nem tentamos — disse .

— Comida?

— Não — eu disse, e me virei para encarar . Se ele mencionasse minha pasta de amendoim na frente dos outros, eu ia matá-lo. Era meu único trunfo no momento.

Ele permaneceu em silêncio.

— Foi por isso que jogou tinta em , ? — Chuck definitivamente soava presunçoso agora. Eu dei ao apresentador um sorriso de dentes arreganhados.

— Ele estava gritando comigo e sendo inútil, Chuck. Então, sim, foi por isso que eu joguei tinta nele.

— Ela estava fazendo muitas perguntas — se intrometeu. — Ao invés de calar a boca e pintar—

— Como eu deveria pintar se não estava recebendo instruções do meu parceiro?

— O que foi que eu disse, Chuck? Impossível. — só me deu seu sorriso mais vitorioso, como se isso fosse me amansar para o seu argumento. — Eu fiz o melhor que pude, mas ela não queria ouvir.

Chuck pôs as mãos no ar.

— Ok, ok, obrigado, Equipe Onze, mas acho que já ouvi o suficiente.

Ao longo da plateia, Candy estava lançando olhares significativos para . Ela não era a única, tampouco. As outras mulheres o olhavam como se quisessem salvá-lo de mim. Ninguém estava me dando o mesmo tipo de olhar, é claro. Eu era apenas excedente, um obstáculo impedindo-as de ter seis semanas de felicidade irrestrita com o bom e velho . E eu não tinha dúvidas de que elas me tirariam assim que pudessem.

O apresentador se virou para a outra equipe, Haley, a ginasta, e Sidney que eu ainda não tivera a chance de conhecer. Sidney parecia suficientemente agradável, com cabelos vastos castanhos e um sorriso brilhante. Haley também.

— Então me digam — começou Chuck —, sua equipe está tendo problemas como a Equipe Onze?

— Oh, não — Haley disse apressadamente. — Estamos nos saindo bem. Sid e eu nos damos muito bem.

Como que para provar isso, Sid assentiu e pôs a mão no ombro da parceira, para mostrar seu apoio mútuo.

Eu fiz uma careta e bufou atrás de mim.

— Então por que é que vocês estão aqui para esta rodada de eliminação? — perguntou Chuck, tentando fazer sua pergunta tão séria quanto possível. Ele até colocou a mão sob o queixo, como se considerando uma questão de grande importância.

Sid deu de ombros e olhou para Haley.

— Eu acho que nós só tivemos azar. Isso é tudo.

— E como é a vida no acampamento?

— Estamos indo bem — continuou Sid, e seu sorriso se alargou. — Temos fogueira, e Haley conseguiu nos encontrar alguns cocos na noite passada. Estamos fazendo tudo direito.

Revirei os olhos. Impossível acreditar que todo mundo estava se dando bem menos eu e . Nós  fomos postos nesses tipos de situações deliberadamente autodestrutivas, eu imaginava. Ninguém ia se dar bem tão fortuitamente quanto Haley e Sid faziam parecer.

Chuck conversou com ele por mais um momento e, em seguida, virou-se para as equipes na plateia.

— Agora é hora de decisão. Cada equipe irá até a cabine de votação e decidir qual vocês desejam que deixe a Ilha da Resistência. — Ele gesticulou para a ponta da fileira. — Equipe Número Um, vamos começar por vocês.

Candy e Leon se ergueram de um salto, quadro na mão, desapareceram em uma pequena estande acortinada no fundo. Eu olhei para o sol, lá no alto, e me perguntei quanto tempo isso levaria.

Quero dizer, era óbvio que eles escreveriam nossos números. Nós éramos um completo desastre de equipe. Não havia nenhuma maneira de que e eu chegaríamos a algum lugar se não aprendêssemos a cooperar, e até agora, nós não tínhamos aprendido.

Um par de cada vez, os outros foram votar até que não faltava ninguém. Chuck desapareceu  por alguns instantes e voltou com uma caixa decorada para parecer com uma caixa de suprimentos perdida, combinando com o tema naufrágio. Muito astuto. Ele nos escaneou mais uma vez — os participantes e as pessoas na berlinda — e, em seguida, tirou a tampa.

— Primeiro voto...

Fechei os olhos. Meu acordo do livro, meu emprego, tudo. Eu podia sentir tudo indo pelo ralo.

— Equipe Quatro.

Eu contraí meu estômago, e tomei uma respiração em surpresa. Espera, esse era a outra equipe. Por que alguém estava votando neles? Nós éramos terríveis.

Chuck tirou a próxima lousa, e então virou para que todos pudessem ver.

— Equipe Quatro.

Não fazia sentido... não é? Eu observei o rosto impassível de Candy, de Tara, de Jody... e todas elas tinham o mesmo olhar inexpressivo.

— Equipe Quatro.

A boca de alguém se curvou discretamente, e isso me atingiu. Claro. Era evidentemente óbvio agora. Eles queriam nos manter aqui, porque nós éramos um desastre. Não conseguíamos trabalhar em equipe — o que nos tornava em ameaça zero. E a Equipe Quatro, que era ligeiramente mais competente que nós, iria para casa.

— Equipe Quatro — continuou Chuck, virando outro quadro, e então outro. — Equipe Quatro. Equipe Quatro. Cinco de nove votos... já é o suficiente. — Ele acenou para os rostos chocados da Equipe Quatro e bateu um martelo contra um coco. — A Ilha a Resistência deu sua sentença. O tempo de vocês aqui se esgotou. — Ele se virou e olhou para mim e . — Vocês estão seguros por mais um round. Voltem para seu acampamento.

Atordoada, olhei para para ver sua expressão. Ele parecia tão chocado quanto eu.

E eu pensando que seríamos votados em primeiro lugar porque nós éramos a pior equipe de lá. A pior equipe possível. Só que aconteceu justamente o oposto— nós fomos mantidos como peso morto, como uma aposta segura.

Mesmo que não devesse, eu sorri ligeiramente. E tenho certeza de que também.

 


N/A: Obrigada, Larissa Holanda <3


 

Capítulo 5

 

Assim que chegamos de volta ao acampamento, jogou sua bolsa na areia.

— Vou dar uma volta — disse ele, e se afastou antes que eu tivesse a chance de responder.

Depositei minha bolsa no chão e relaxei na areia morna por alguns minutos, mexendo os dedos dos pés nos grãos. Olhei para trás para nosso pequeno acampamento, e meu ânimo se arrefeceu. Tínhamos uma fogueira, mas não fogo. Eu tinha uma plataforma improvisada como cama, mas nada para cobrir. Não tínhamos nada para comer ou beber.

Era um pedaço do paraíso.

Eu encontrei alguns cocos caminhando pela mata, mas descobri que tinha levado o machado com ele. O estômago roncando, a garganta seca, eu percebi que nem mesmo sabia onde ficava a fonte de água. Sem nenhum modo de comer a escassa comida, e não totalmente pronta para recorrer ao meu esconderijo da manteiga de amendoim ainda, eu decidi trabalhar no meu abrigo.

Tudo o que eu realmente precisava para deixar o meu pequeno abrigo completo era algum tipo de cobertura para proteger do vento (e chuva, se eu tivesse que ser tão azarada). Eu decidi por uma pequena estrutura em A, já que parecia mais fácil de fazer, então coloquei mãos a obra. A madeira foi relativamente fácil de achar, embora eu não tivesse nada para amarrar... Acabei usando o biquíni de cortininha — que eu não tinha mesmo a intenção de vestir. De todo modo, o abrigo era mais importante. Eu mergulhei na minha tarefa com determinação obstinada.

No momento em que olhei para cima, o sol estava descendo, eu estava coberta de suor e picadas de mosquitos, e não tinha dispensado um único pensamento sobre fazer fogo. Mas o meu pequeno abrigo estava pronto! Meu olhar se desviou do meu trabalho para o cobertor de que escapava da sua bolsa com uma pontada de orgulho presunçoso. Um de nós ia dormir bem esta noite, e mesmo que ele tivesse um cobertor, eu tinha um abrigo.

Juntei mais um pouco de lenha e gravetos para fazer a fogueira, mas o sol estava muito baixo a esta altura e eu mal podia ver o que estava fazendo. ainda estava longe de ser visto, e eu olhava ansiosamente para os meus cocos, ainda cobertos pela resistente casca verde. Eu poderia tentar parti-lo contra um tronco caído, mas se conseguisse, eu perderia toda a água de dentro. Mesmo estando trêmula de fome, eu me forcei a esperar, embalando-o em meus braços e deslizando para o abrigo com minha bolsa para esperar pelo retorno de .

Devo ter adormecido em algum ponto— eu acordei quando senti algo quente e pesado tocar meus pés.

— O quê–

— Pegue o cobertor — disse com voz rouca, empurrando-o pelas minhas pernas. — Seus dentes estão batendo tão forte que eu não consigo dormir.

Eu não tinha percebido o quando estava com frio até que ele jogou o cobertor sobre mim, e eu me aconcheguei sob ele, agradecida.

— E você? — perguntei sonolenta. — Meu abrigo não é grande o suficiente para nós dois.

— Não se preocupe comigo. Eu não consigo dormir de qualquer jeito — disse , e eu o ouvi se afastar.

A manhã chegou quando eu já não podia mais adiar o vazio roendo meu estômago. Eu me arrastei para fora do abrigo, coco na mão, olhando com os olhos turvos para o céu. Ainda era manhã, mas não cedo; o sol estava alto.

estava sentado a certa distância na areia, seus ombros sacudiam ligeiramente enquanto ele se curvava sobre alguma coisa. Ele parecia... cansado. Mesmo deste ângulo. Me deu uma pontada de culpa ao ver isso, e eu me aproximei lentamente com o coco na mão. Parte de mim queria escondê-lo, mas ele tinha sido generoso o suficiente para compartilhar seu cobertor comigo— o mínimo que eu podia fazer era oferecer para compartilhar minha comida.

Se fosse necessário.

Ele não olhou para mim quando me aproximei, concentrado em sua tarefa, e eu espiei por cima do seu ombro... Ele tinha gravetos nas mãos, seu cadarço amarrado a um graveto curvado e estava tentando esfregá-los para fazer fogo. Ele estava fazendo isso totalmente errado.  A julgar pelo suor na testa, também estava nisso por algum tempo.

Meu estômago roncou e eu escolhi não apontar o óbvio, andando em volta dele e procurando pelo machado. Estava a alguns passos de distância da perna esquerda dele, meio coberto pela areia, e eu me virei para pegá-lo.

— Bom dia.

Ele resmungou algo que poderia ser um “Oi”, sem erguer os olhos da sua tarefa. Com o arco e o cadarço, ele “serrava” para frente e para trás outro galho, obviamente tentando obter fogo. Não estava se saindo muito bem nisso também.

Eu ergui o machado e examinei o coco, tentando determinar a melhor maneira de abri-lo. Não fazia a mínima ideia. Depois de um momento, a fome venceu, e eu simplesmente o deixei cair no chão a alguma distância e ergui o machado.

— Você vai se machucar — disse de trás de mim. — Especialmente se segurar o machado assim.

Isso me irritou, e eu me  virei para encará-lo.

— Estou morrendo de fome, e esse coco vai estar no meu estômago nos próximos cinco minutos, ou eu vou ter que ir atrás de pequenas criaturas da floresta com este machado. Entendeu?

Eu podia jurar que sua boca se contorceu um pouco.

— Eu vi o outro coco que você deixou para mim ontem à noite. Obrigado. — Ele se levantou, sacudiu a areia da bermuda e se moveu para ficar ao meu lado, a mão esticada para o machado. — Me deixe fazer isso.

Uma carranca tomou meu rosto, e eu o encarei ainda mais duramente, abraçando o machado.

— Isso é algum tipo de merda machista?

— Não, isso é o tipo de  merda eu-não-quero-ter-que-socorrer-você. Eu levei uma eternidade para descobrir como abrir o meu coco, e suas mãos estão tremendo. Agora me dê isso aqui ou você vai se machucar.

Relutantemente, eu entreguei o objeto afiado. Ele tinha razão, e minhas mãos estavam mesmo trêmulas como vara verde. Dei alguns passos para trás, para que ele tivesse espaço para fazer seu trabalho, mas ainda fiquei por perto, observando. Eu não queria tirar os olhos dele, por medo de que isso fosse um truque e ele tentasse fugir com a minha comida.

Aparentemente minha desconfiança era desnecessária. Com movimentos fáceis e precisos, ele descascou a parte verde do coco e usou a ponta do machado para abrir um buraco na parte de cima da fruta, e então a estendeu para mim.

— Beba. Quando terminar, eu vou abri-lo para você.

Afobadamente eu o arrebatei de suas mãos e o levei à boca. O primeiro gole doce tocou meus lábios, e eu me senti prestes a tocar o céu. Parecia a melhor coisa que eu já tinha bebido. Tomei outro gole e, em seguida, olhei para com culpa. Custou tudo o que eu tinha para estender o coco e oferecer a ele.

— Quer um pouco?

Ele dispensou.

— Nah. Eu já comi três esta manhã.

— Três? — balbuciei, raiva substituindo a culpa. — Onde você conseguiu três?

me lançou um olhar estranho, o do tipo eu-estou-preso-aqui-com-uma-maluca que eu viera a conhecer tão bem nos dois últimos dias.

— Nós estamos numa ilha tropical. Tem coco em toda parte. Você também pode comer três de café da manhã, se quiser.

Claro. Eu não tinha me tocado. A fome estava me deixando fraca — e burra. Claro que havia coco na ilha. Não sei por que não tinha me ocorrido procurar por mais. Exaustão, eu supunha. Tínhamos arroz também — assim que descobríssemos como cozinhá-lo.

Eu inclinei a cabeça para trás e terminei de drenar o coco, decepcionada quando ele ficou vazio e eu tive que entregá-lo de volta. Um momento depois, o dividiu com uma machadada certeira, e me devolveu as duas metades juntamente com um pedaço da casca que formava uma espécie de pazinha. Eu rapidamente raspei a carne branca e espessa e enfiei na boca. Era tão bom; eu quase podia sentir meu estômago vazio vibrando de êxtase.

voltou para seus instrumentos de fazer fogo, com os ombros se colocando na mesma postura resignada que eu tinha visto antes. Eu não disse nada, enquanto escavava o coco e comia. Ele pegou o arco e começou a “serrar” o galho outra vez, o graveto se movendo para frente e para trás com grande velocidade... e nenhum resultado.

Depois de eliminar até o último milímetro da carne branca e lamber os dedos — com areia e tudo —, observei por mais um momento. Seu rosto pingava de suor, seus movimentos esgotados, embora estáveis.

— Está fazendo errado — eu decidi deixar escapar a despeito do meu melhor julgamento. Ele ergueu a cabeça, semicerrou os olhos para mim e afastou rispidamente o suor da testa com as costas da mão. Sua boca em uma linha dura.

— O que quer dizer com isso?

Eu rastejei pela areia, movendo-me para o outro lado, e afastei sua mão dos utensílios, para que eu pudesse estudá-los melhor. Estava óbvio para mim onde ele tinha errado.

— Aqui — eu disse, e apontei para a madeira de base, onde ele tinha aberto um pequeno buraco para pegar a centelha. — Precisa de algum material inflamável e o buraco tem que ser em formato de V, com o fundo mais estreito.

tentou pegá-los de volta.

— Olha, eu tenho–

Segurei a madeira longe dele.

— Poderia confiar em mim e fazer o que eu estou dizendo?

Encaramo-nos por alguns instantes, e então ele se levantou para pegar gravetos. Até o momento em que ele voltou, eu tinha feito o corte direito na madeira e começava a colocar tudo em seus lugares de novo, incluindo a palha que ele trouxe.

— Quer fazer isso ou quer que eu faça?

— Continue — ele disse, gesticulando.

Era evidente que ele esperava que eu falhasse. Eu bufei e posicionei o arco, então comecei a trabalhar.

Não era uma tarefa fácil, diga-se de passagem. Esse método era obviamente mais fácil do que apenas girar o galho entre as mãos, mas nem por isso exigia menos esforço. Meu braço estava gritando de dor depois de trinta segundos, mas eu não tinha intenção de desistir. Em vez disso, eu ignorei o suor gotejando em minha testa, mordi o lábio, e continuei movendo ininterruptamente o arco para frente e para trás, tentando extrair uma fagulha.

E depois do que me pareceu uma eternidade, um pequeno fio de fumaça começou a subir.

— Você conseguiu! — gritou no meu ouvido, e se inclinou para soprar sobre o pequeno núcleo de fogo. A faísca aumentou e nós apressadamente afastamos o arco com o galho e aproximamos a palha. Quando se tornou uma chama significativa, embrulhou a coisa toda em uma folha de palmeira e levou-a para nossa fogueira, colocando-a na parte inferior da pilha de lenha delicadamente. Eu segui atrás dele, secando a testa.

— Como você sabia? — Ele olhou para mim, depois voltou a soprar a chama um pouco mais.

— Sabia o quê? — perguntei, alongando meus braços doloridos com o esforço. — Fazer o fogo?

Ele assentiu, sem tirar os olhos da fogueira, enquanto alimentava a chama bruxuleante com mais palha e varetas.

— Eu estava tentando desde a noite passada. Esfreguei essas varas por tanto tempo e com tanta força que achei que meus braços fossem cair, e você conseguiu em vinte minutos.

Eu cheguei mais perto da fogueira, satisfeita que ele estivesse tão impressionado com meus esforços.

— Eu fiz a resenha de um livro de um sobrevivencialista famoso uma vez. Um acordo muito bom para a editora, mas o cara era um babaca total. Ele mesmo escreveu ao invés de deixar o trabalho para um escritor fantasma, ou pelo menos foi o que me disse. De qualquer forma, ele era um idiota, então eu peguei um guia de sobrevivência na selva e verifiquei cada ponto do livro. E acabei dando a ele uma estrela. — Eu acenei em direção à fogueira, minha boca se curvando em um sorriso com a lembrança. — Ele também errou sobre a coisa de fazer fogo. Pela mesma razão, o maldito buraco.

balançou a cabeça para mim, sua boca se curvando muito ligeiramente em um sorriso.

— Você adora provar que as pessoas estão erradas, não é, ?

Eu não respondi, mas nem precisava. O sorriso no meu rosto era suficiente. Senti-me bem por sorrir depois de três dias de completa e absoluta miséria, e eu tive uma sensação de calor engraçada no meu estômago quando sorriu de volta, sua boca se estirando em uma curva lenta e devastadora.

Deus, por que eu tinha que ficar presa com um homem tão lindo — e arrogante?

Para distraí-lo do olhar que estava dando em minha direção, eu acenei para o fogo.

— Eu posso cuidar disso.

olhou para o toco com nossas Convocações Tribais.

— Nós recebemos mensagem, sabe.

Eu gemi com isso.

— Hoje de novo?

Ele assentiu.

— Provavelmente algum desafio de recompensa. O barco deve estar aqui em breve. — Ele me fitou, os olhos mais claros devido a luz do sol, contrastando com seu novo bronzeado. — Mas acho que precisamos ter uma conversa séria antes de ir.

Eu quis gemer de novo. Nós estávamos sendo adultos civilizados no momento, era uma boa mudança. Eu não queria voltar para a coisa de odiá-lo já. Era muito desgastante.

— Precisamos?

— Olha, nós dois estamos aqui porque queremos ganhar. Eu acho que temos que reconsiderar nossos, hm... nossas táticas.

Eu tive que sorrir relutantemente diante disso.

— O que, quer dizer que gritar um com o outro não vai exatamente nos levar para a final?

A sugestão de um sorriso repuxou o canto da sua boca.

— Algo assim. Precisamos trabalhar em equipe, se queremos ficar até o fim. Se continuarmos ficando para trás, vamos acabar sendo eliminados, não importa o desastre que parecemos ser.

Eu concordei. Ele tinha um ponto muito bom.

— Eu odeio perder, e acho que seríamos uma boa equipe se pudéssemos deixar nossas cabeças duras de lado tempo necessário para trabalharmos juntos—

Eu revirei os olhos.

— Não precisa me lisonjear...

— Estou falando sério — ele me interrompeu novamente, e gesticulou em direção ao fogo que estava alimentando lentamente. — Olha o que nós conseguimos em pouco tempo. Nós comemos, conseguimos fogo e podemos ferver a água. Você tem um abrigo, mas ainda está congelando à noite. Eu tenho um cobertor, mas nenhum abrigo, por isso fico aquecido e coberto de picadas de insetos. — Ele fez uma pausa para coçar o braço, como para enfatizar seu ponto. — A questão é que nenhum de nós está dormindo.

Eu fiquei em silêncio, pensando em quão bem havia dormido nessa noite com seu cobertor emprestado. O cobertor que ele tinha dado para mim. Ele provavelmente tinha andado pela praia a noite inteira, tentando se manter aquecido, e passou a manhã tentando (sem sucesso) construir uma fogueira. É, nós não estávamos exatamente dominando a Ilha da Resistência com as nossas habilidades— ou a falta delas.

Diante do meu silêncio, ele suspirou.

— Olha, , eu percebi que você colocou na cabeça que não gostava de mim porque eu sou consideravelmente atlético e atraente. — Eu engasguei com isso, minha boa vontade com relação a ele oscilando perigosamente próximo do zero. — Mas você pode me odiar depois do jogo, quando um de nós ganhar aqueles dois milhões de dólares.

— Eu não odeio você — protestei. — Mas você não se mostrou exatamente amável quando pisou em mim para nadar até praia e vencer, sabe.

— Era você? — Ele sorriu amplamente. — Ops.

Eu apertei minha mandíbula. Metade de mim queria golpeá-lo no rosto arrogante, mas a outra parte de mim queria rir do sorriso de menino travesso que ele usava quando olhou por mim por sobre o fogo. Para mim, este parecia ser um novo . O com quem eu estaria vivendo e dormindo pelas próximas seis semanas.

Triste dizer, mas na última hora, eu tinha realmente me aberto para o novo . Eu cocei minhas picadas de mosquito e lhe dei um pequeno e relutante encolher de ombros.

— Tudo bem. Nós podemos trabalhar juntos.

Ele assentiu.

— O que é meu é seu, e o que é seu é meu. Eu vou parar de esconder o machado e o mapa da poço.

Meu queixo caiu.

— Você estava escondendo coisas?

sorriu e me deu um olhar inocente.

— Você está escondendo sua pasta de amendoim, não é?

Isso me irritou.

— A pasta de amendoim é proteína pura e açúcar. Eu estou guardando... — eu me interrompi quando vi sua expressão mudar. — Precisamos guardá-la — corrigi. — Para quando estivermos exaustos e estiver chegando um desafio.

— Tipo, como hoje? — Ele disse e olhou de soslaio para a praia. Ao longe, um pequeno barco vermelho tinha surgido, e eu sabia que logo estaríamos indo para o desafio.

Ele tinha razão, no entanto. Mesmo depois de encher a barriga com coco, eu ainda estava fraca e trêmula, e ele parecia exausto demais. Poderia ser útil um pouco de energia antes do desafio, e para consolidar nosso acordo. Então eu me ergui, sacudindo a areia da minha roupa e olhei para o barco.

amaldiçoou em voz baixa.

— Cara, eles têm um timing de merda, né? Logo quando conseguimos nosso fogo.

Andei até o abrigo, apontando para um tronco grande que eu tinha arrastado para perto no outro dia.

— Coloque aquele pedaço grande de madeira sobre o fogo. Vai queimar e mantê-lo aceso.

— Mais dicas daquele livro?

Sorri, enquanto entrava no meu abrigo improvisado, afastando as folhas para pegar minha bolsa.

— Nunca me irrite — brinquei, me referindo ao infeliz autor sobrevivencialista.

— Já aprendi essa lição. — Mas sua risada era admirada. — O que está fazendo?

Puxei o pote de pasta de amendoim para fora da bolsa e o balancei no ar.

— Consolidando nossa aliança com um gesto de boa vontade — falei, e quando ele finalmente estendeu a mão para o pote, eu o puxei para fora do seu alcance. — Não tão rápido, amigo. Precisamos parcelar e fazer durar, se vamos comer um pouco antes de cada desafio.

Eu esperava que ele fosse protestar, ou argumentar comigo, mas sua boca só se curvou em um sorriso divertido que fez os cantos dos seus olhos enrugarem. Maldição, seus olhos eram tão bonitos...

— Você manda — foi tudo o que ele disse.

Com gestos hesitantes, quase trêmulos, eu retirei o plástico de proteção e a tampa em seguida. Uma fina camada de óleo de amendoim cobria o topo. O cheiro que flutuou para fora do pote fez meu estômago roncar, e deu um pequeno gemido profundo.

— Porra, que cheiro bom — disse ele.

Eu assenti e olhei ao redor — as únicas coisas que podíamos usar para pegar a manteiga de amendoim estavam cobertas de areia, então eu decidi usar a próxima melhor coisa. Limpei meus dedos na roupa — que devia ser a coisa mais limpa na ilha no momento —, retirando todos os grãos de areia, e então cuidadosamente enfiei dois deles no frasco. Com precisão meticulosa, eu peguei uma quantidade robusta de pasta e estendi para . Só suficiente para afastar as dores da fome e nos dar uma explosão de energia, uma colher de sopa, no máximo.

Minha intenção era que ele transferisse a pasta para seus próprios dedos. Talvez a visão do doce o tenha distraído, porque ele se inclinou e tomou os meus dedos na boca, raspando a língua contra eles.

E simples assim, meu mundo virou de pernas para o ar.

Calor correu pelo meu corpo com a sensação da sua língua nos meus dedos, sua boca quente sugando na minha pele. Esqueci-me da pasta de amendoim que era seu objetivo original e meu rosto se aqueceu com rubor, minha mente totalmente concentrada na visão dos belos lábios. Devo ter estremecido ou tentado afastar, porque sua mão agarrou a minha e a manteve lá enquanto sua língua deslizava sobre meu dedo, limpando minha pele.

Fazendo-me arder até a medula.

Uma onda de calor pulsou através do meu corpo e eu inspirei bruscamente. O olhar de se moveu para meu rosto, e eu soube que ele estava percebendo a mesma coisa que eu estava. Sua língua se movia lentamente sobre minha pele, sensualmente. Seus olhos prendiam os meus, e sua língua deu ao meu dedo um último toque que eu senti por todo caminho até o meu baixo-ventre. Então ele soltou minha mão.

— Desculpe.

— Tudo bem — eu disse em um torpor, meu olhar ainda preso em sua boca.

Ele acenou com a cabeça para a margem e passou por mim, limpando a garganta.

— O barco está aqui.

Atordoada, eu olhei para os meus dedos e me perguntei se poderia colocá-los na minha boca depois daquilo... ou isso seria perigosamente perto de um beijo?

Nossa dinâmica de equipe tinha mudado novamente. Levei meus dedos aos lábios e olhei para pensativamente.

 


N/A: Será que o novo entendimento entre eles vai ser forte o suficiente para não se abalar com o que quer que aconteça no próximo desafio?


 

Capítulo 6
Dia Três

— Bem-vindos ao desafio de hoje — disse Chuck enquanto as equipes se enfileiravam e moviam-se para a plataforma com nossos números. Quando estávamos todos nos nossos devidos lugares, ele continuou: — Hoje vamos ter um Desafio de Luxo. As regras são um pouco diferentes. Em vez dos últimos colocados serem desclassificados, as seis primeiras equipes a concluírem a disputa de hoje vão receber uma recompensa. Entendido?

 Nós assentimos em acordo, e meus olhos insistiam em se desviar para o percurso.  De onde eu estava, ao lado de , era possível ver as mesas arrumadas na beira da laguna, e na água eu vi as boias coloridas e numeradas, flutuando ao longe. Aparentemente ia requerer um monte de natação. Meu estômago se apertou um pouco com o pensamento. era ótimo nadador. Eu não. E se perdêssemos por minha causa, nosso tênue acordo de não nos matarmos estaria acabado?

Eu gostava de estar com , por incrível que pareça.

Por alguma razão, eu ficava imaginando sua boca na minha mão, e a sensação da sua língua contra minha pele. Corei com a lembrança e me forcei a me concentrar no que Chuck estava dizendo.

Chuck apontou para a água.

— Cada boia colorida tem um saco com peças de quebra-cabeça embaixo. Uma pessoa de cada dupla vai nadar para pegar o saco, nadar de volta para a praia e entregá-lo ao parceiro. São cinco sacos no total, e tem que trazer um de cada vez. O outro parceiro vai usar as peças para montar o quebra-cabeça e, quando terminar, erguer a bandeira da sua equipe. As seis primeiras equipes a erguerem suas bandeiras ganham um prêmio. Querem ver pelo que vocês vão disputar?

Eu assenti e bati palmas tão ansiosamente quanto os outros. Depois de algumas noites presos em uma praia estéril, estávamos todos animados com a perspectiva de artigos de luxo.

Chuck puxou lentamente a caixa decorativa que cobria a primeira bandeja.

— Fósforos — ele gritou, e segurou-os no alto.

Nós aplaudimos; quem não queria fósforos quando se tinha de fazer fogo com as próprias mãos? Os próximos dois itens foram comida. Um prato tinha sanduíches, e ao lado tinha biscoitos doces. Ouvi um gemido coletivo das meninas com a visão dos biscoitos. Eu tinha que admitir que chocolate cairia muito bem agora.

Os próximos itens foram igualmente bons — um cobertor e um par de travesseiros. Mas foi o último objeto revelado que realmente me chamou a atenção. Chuck levantou a caixa final e exibiu um grande frasco verde-escuro.

— Algo para a pele — ele anunciou. — Um repelente de insetos nativo feito de óleo de eucalipto.

Só de ouvir me fez coçar, e eu olhei para , que estava tendo a mesma reação que eu. Repelente de insetos seria muito bom.

— Alinhem-se, equipes, e vamos nos preparar! — Chuck ergueu o braço no ar, e nós entramos em ação.

Não precisou de muita persuasão para que eu concordasse que seria o nosso nadador. Ele acenou para mim e andou para a beira da praia com os outros homens, e eu me coloquei atrás da nossa mesa, avaliando quem mais estaria trabalhando nos quebra-cabeças. Todas as mulheres tinham sido deixadas com a montagem, com exceção da ex-militar, Tara, que estava se encaminhando para a praia para nadar com os outros homens. Se alguém poderia competir com eles, era ela, eu admiti com um sorriso irônico.

Olhei para o tabuleiro do meu quebra-cabeça, notando as bordas. As cores eram estriadas em um padrão de zebra que consistia em várias cores diferentes. Deveria ser confuso, mas aquilo iria na verdade tornar a correspondência das peças mais fácil. A melhor coisa a fazer era começar das pontas para o centro. Confiante, olhei para os outros que esperavam atrás das mesas. Eles nem sequer olharam para seus tabuleiros, mas olhavam para os participantes do sexo masculino. Os homens tiravam as camisas, e era uma exibição impressionante de pele masculina bronzeada. Vários olhares, eu notei, pareciam estar focados no meu parceiro em particular e seu corpo esculpido.

Não que eu tivesse notado como ele ficava excepcionalmente bem em sua roupa de banho, é claro.

— Os competidores estão prontos? — Chuck ergueu o braço no ar, levantado uma bandeira com o logotipo verde da Ilha da Resistência nele. — Preparar... Já!

foi o primeiro no mar, suas pernas musculosas bombeando enquanto ele avançava na água até estar na altura da cintura, e então mergulhando. Aqueles esperando na praia torciam por seus parceiros— bem, menos eu. Eu não queria torcer por na frente dos outros. Eles ainda estavam nos dando olhares debochados, evidentemente esperando que nós dois nos autodestruíssemos novamente. Por alguma razão, isso me fez sentir segura. Eles não sabiam do nosso pequeno acordo de tentar se entender, e claramente não nos viam como uma ameaça. Então eu não torci por ele, apenas fiquei na mesa com os punhos cerrados, meu corpo uma pilha nervosa de tensão.

Os nadadores começaram imediatamente a agarrar as boias mais próximas, mas nadou até a mais distante, no final da laguna. Mordi o lábio com a visão, mas percebi que ele estava fazendo um movimento inteligente — quando estivesse cansado e a competição estivesse por um fio, ele não teria que nadar tanto.

Os outros começaram a notar também, e quando as primeiras peças foram entregues, eu podia ouvir os parceiros dando bronca: — Pegue os mais distantes primeiro! Anda! Depressa!

Mas eles tinham suas peças de quebra-cabeça na mão e eu não, então fui obrigada a ficar na nossa bancada e torcer as mãos, esperando que chegasse logo. Estávamos muito atrás dos outros neste ponto, mas eu vi um casal ajustando sua estratégia e eu sabia que se ajeitaria no final— assim eu esperava. Alguns dos outros já estavam atacando seus quebra-cabeças, e tudo o que eu podia fazer era olhar para enquanto ele saía da água.

E, minha nossa, ele parecia ainda mais lindo. A água brilhava em seu abdômen e escorria pelo peito, e minha boca secou quando seu short folgado abaixou no quadril. A água pingava da sua pele enquanto ele corria até mim, e eu estendi as mãos como uma marionete. Ele empurrou o saco nos meus braços e se virou antes que eu pudesse falar com ele, correndo de volta para a água, com os pés espirrando areia no meu rosto.

Isso quebrou o clima.

Eu rasguei o saco e peguei as peças, jogando-as no tabuleiro. Havia dez pedaços no meu saco, então deviam ser cinquenta ao todo. Imediatamente os virei e comecei a separá-los por cor e borda. Antes que eu pudesse começar com as beiradas, estava de volta e jogou outro saco molhado na minha mesa, então correu de novo, e eu comecei todo o processo mais uma vez. Tudo ao meu redor, pessoas gritando e correndo e espalhando areia, tornavam difícil me concentrar. Baixei a cabeça e continuei a classificar minhas peças, tentando me desligar dos outros.

Mais três vezes veio e deixou cair um saco molhado na minha mesa e, depois da terceira vez, sentou-se na bancada, respirando com dificuldade. Boa! Acabado! Tínhamos todas as peças! Eu imediatamente terminei de classificá-las por cor e comecei a pegar os que tinha designado como bordas, encaixando-os nos seus lugares. Eu tinha sido um gênio em quebra-cabeças quando criança, e uma expert em Tetris quando adolescente, e podia fazer isso. Trabalhei rapidamente, encaixando as partes, preenchendo meu quebra-cabeça por completar cada cor e trabalhar da direita para esquerda.

— Como eles conseguiram todas as peças tão rápido? — Alguém resmungou ao meu lado, e eu ouvi murmúrios baixos. Eu não ousava erguer os olhos do meu tabuleiro, mas o tom daquela voz me deu um calafrio. Se não fôssemos vistos como inúteis e fracos... nós não íamos durar muito se fôssemos para a votação novamente. Não com a impressionante capacidade atlética de .

Eu diminuí o ritmo, colocando uma peça amarela no meio de várias cor-de-rosa, e comecei a fingir pensar muito, mesmo que estivesse mentalmente combinando as peças com facilidade e estivesse quase terminando. Não queria ser a primeira. Seria uma morte súbita para nós, se ficássemos em primeiro.

Água pingou nas bordas do meu tabuleiro.

— O que você está fazendo? — sibilou para mim. — Por que está desacelerando? — Ele apontou para uma peça, a amarela. — Aquilo não é ali.

Ergui os olhos e o encarei.

— Afaste-se — ordenei em voz alta, surpreendendo claramente meu parceiro. — Eu sei o que estou fazendo! Me deixe em paz! — Eu pisquei, mas duvidava que ele pudesse ver.

me deu um olhar chocado, erguendo as mãos no ar. Ele franziu o cenho na minha direção, e eu rapidamente mudei as peças, movendo o amarelo de volta para o local apropriado, e olhei para o semicírculo de participantes. Os outros ainda estavam trabalhando piamente. A pateta da Raika à minha direita não tinha sequer montado as bordas do seu. Ela não era uma ameaça. Eu ainda estava muito à frente.

Qual seria um bom lugar? Quarto? Quinto? Eu queria desesperadamente o prêmio, mas também não queria ficar em primeiro.

se inclinou novamente.

, que merda você está fazendo?

— Brigue comigo — murmurei sob a respiração, deslizando outra peça. Eu tinha duas na minha mão, e fingia checar os outros pedaços, como se não tivesse certeza se encaixavam, e olhei outra vez para a fileira. — Só discuta comigo. Alto — sussurrei.

Ele pausou por um momento e ficou quieto, e eu me perguntei se ele ia atender meu pedido. Então, em voz alta:

— Você é burra?

— Afaste-se! — rosnei para ele, testando outra peça e olhando para os outros. — Você está me deixando nervosa! — Céus, eu esperava que minha atuação fosse convincente.

— Eu estou tentando ganhar esta coisa para nós e você está nos atrasando — gritou , e eu estremeci. — Você não viu que eu estava na frente? Eu estava ganhando!

— Quebra-cabeça é difíceis — respondi, em tom de queixa.

— Pronto! — Alguém gritou, e uma bandeira foi erguida. Equipe Três. Eu respirei fundo, esperando, e lentamente encaixei outra peça.

— Pronto — gritou outra pessoa um segundo depois. Então outro, — Feito! — Mais duas bandeiras erguidas.

— disse em advertência, urgência modulando seu tom.

— Nós terminamos! — gritou uma dupla ao meu lado, e a Equipe Nove levantou sua bandeira.

Eu bati a última peça no lugar e virei a alavanca que fez minha bandeira levantar. Chega de esperar — não podia me arriscar mais. Quinto lugar estava ótimo.

— Feito! — gritou, um mero segundo antes que outra equipe gritasse, e então outra. Nós tínhamos chegado perto, por sorte. Muita sorte.

Meu coração martelou no peito com o olhar que me deu.

— As Equipes Três, Sete, Oito, Nove, Onze e Dois são as vencedoras! — Chuck acenou a bandeira, encerrando o desafio.

Ouvi Raika bufar ao meu lado, e algumas pessoas olharam para nós em surpresa. olhou para mim e sua boca começou a repuxar em um sorriso. Eu imediatamente joguei um dos sacos molhados em seu rosto, estremecendo mentalmente com o slap alto que o tecido molhado fez.

— Da próxima vez, não grite comigo quando eu estiver tentando pensar — gritei com toda a força dos pulmões. — Palhaço!

As equipes próximas riram, e os cinegrafistas imediatamente se moveram como abutres, enquanto eu empurrava para ir em direção ao círculo dos ganhadores onde as outras equipes estavam se reunindo. Eles estavam se enfileirando em ordem, os parceiros se abraçando cochichando em delírio. se moveu para o meu lado e eu lhe dei outro empurrão de leve.

Na ordem que havíamos terminado, as equipes escolheriam seus prêmios. Sem surpresa, os fósforos foram os primeiros a ir. Não que eu pudesse culpá-los— até eu adoraria poder ter fogo fácil. No entanto, eu estava de olho no repelente. Eu já podia sentir minha pele pinicando.

A próxima equipe escolheu os biscoitos, e um suspiro coletivo foi ouvido enquanto eles mordiam felizes. Depois, os sanduíches, seguido por mais suspiros. Meus dedos se cruzaram firmemente enquanto a próxima equipe parecia discutir por um momento.

— Cobertor — eles disseram, e eu exalei audivelmente, olhando para .

Ele não hesitou.

— Repelente — disse, e coçou uma mordida em seu braço. Chuck assentiu e se aproximou, estendendo a garrafa para nós.   a pegou e colocou-a embaixo do braço, deliberadamente não me deixando chegar perto, e eu tive que admitir que isso feriu meus sentimentos. Eu olhei para as costas dele, enquanto a última equipe recebia seus travesseiros e os pequenos botes começaram a se alinhar novamente para nos levar de volta aos locais dos acampamentos.

Nós não nos falamos no caminho de volta — uma das regras da Ilha da Resistência —, e me incomodou que nem sequer olhou na minha direção. Ele não tinha entendido o que eu pretendera fazer? Queria perguntar, mas esperei. E quando nos deixaram na nossa praia e não havia ninguém além de mim, e o cameraman de pé na praia sob o sol de meio-dia, encarou a garrafa, então virou e me olhou.

— Foi um risco enorme, sabia?

— Eu sei — admiti.

Ele meneou a cabeça, um sorriso lentamente deslizando em seu rosto.

— Eu não sei se grito com você ou te beijo.

Por alguma razão, aquela admissão me deixou tímida, e minha mente imediatamente se voltou para a pasta de amendoim. Senti meu rosto esquentar — droga — e dei a ele um sorriso pateta.

— Eu estava torcendo para que você entendesse o que eu estava fazendo. Se os outros pensarem que não podemos trabalhar juntos, estaremos seguros se acontecer de irmos para a eliminatória outra vez. Pense nisso, eles vão nos manter por perto porque nós estamos em desvantagem. Seríamos tolos se não usássemos isso a nosso favor.

Ele se aproximou e agarrou a parte de trás da minha cabeça, enrolando a mão nos meus cabelos. Por um momento, pensei que fosse se inclinar e me beijar, mas ele só sorriu e olhou diretamente no meu rosto, a meros centímetros de distância.

— Você é um gênio, sabia disso?

Isto estava ficando perigosamente perto de flerte. Eu o empurrei no peito, ainda que de uma forma brincalhona.

— Eu só estava cansada de ser comida por mosquitos.

— Eu também — ele concordou, puxando a rolha da garrafa. — Mas eu não teria me importado com um sanduíche. — cheirou o frasco e fez uma careta. — Cheiro forte.

Eu cocei as picadas empoladas nos meus braços.

— Provavelmente para manter os mosquitos longe.

— À prova d’água, também, de acordo com o rótulo. Bem legal da parte deles, considerando que nos instalaram numa praia. — sorriu. Ele inclinou a garrafa em minha direção, me oferecendo. — Primeiro as damas?

Peguei a garrafa dele e dei uma pequena fungada, em seguida, fiz uma careta. Ele tinha razão, tinha um cheiro muito forte. Eu derramei um pouco na minha mão e senti a textura — espessa como loção. Ia fazer a areia grudar loucamente em nós, mas eu não me importava. Preferia estar coberta de areia, mas livre de insetos. Com movimentos rápidos e entusiásticos, comecei a esfregá-lo em meus braços expostos.

Vendo meu entusiasmo, derramou um pouco em sua mão também e seguiu meu exemplo. Ficamos ali de pé na luz escaldante do sol, esfregando o repelente em nossos corpos, tontos de prazer. Depois de tudo, em trajes de banho havia tanta pele descoberta que eu suspeitava que acabaríamos usando o vidro inteiro muita antes do programa acabar. Eu não me importava; queria alívio imediato dos mosquitos.

Eu vi a mão de deslizar na parte inferior das costas, e notei uma grande parte de pele exposta que ele não alcançava, e imaginei os insetos pausando ali. Com minhas mãos escorregadias com a loção, eu imediatamente comecei a esfregá-las em toda extensão de suas costas, alcançando entre as omoplatas e na espinha para cobrir seu corpo em sua totalidade. grunhiu com isso, e eu imaginei que ele estivesse satisfeito.

— Obrigado — agradeceu, enquanto eu alisava minhas mãos sobre os músculos duros uma última vez. — Aqui — disse, afastando-se. — Me deixe passar em você.

Virei-me e expus minhas costas para ele, esfregando minhas mãos na minha barriga nua e pensando como era diferente a sensação do meu corpo em relação ao seu. Envergonhada, eu quase me afastei novamente até que senti suas mãos escorregadias deslizando sobre meus ombros. E então eu deixei escapar um suspiro de puro prazer. Não só manteria os mosquitos longe, mas também era refrescante contra minha pele ressecada e queimada do sol. Eu arqueei um pouco sob o roçar das suas mãos. Nada deveria ser assim tão celestial.

Depois de um momento ou dois, tornou-se claro para mim que o esfregar-loção tinha ultrapassado a fase “superficial”. Suas mãos ainda deslizavam por minhas costas, mas a sensação tinha assumido um toque mais exploratório, e eu sentia as pontas dos seus dedos trilharem a inclinação da parte baixa das minhas costas, provocando arrepios através da minha pele. Suas mãos se espalmaram nas minhas costas, como se fosse abranger minha cintura, e eu puxei o ar com força diante das sensações que me atravessaram. Elas definitivamente não tinham nada a ver com o jogo, e tudo a ver com a proximidade de . As pontas dos seus dedos se moveram ao longo das laterais do meu corpo, roçando gentilmente quase fazendo cócegas, trilhando para cima até que as senti tocando as amarras do meu biquíni. Senti ele avançar um pouco, sua sombra caindo sobre mim, e todo meu corpo pareceu leve e lânguido, calor correndo através de mim.

começou em uma voz baixa e rouca, e eu me virei, olhando por cima do ombro para ele com as pálpebras pesadas. O olhar em seu rosto era caloroso, sexual.

Algo estalou no mato nas proximidades. Sobressaltada, eu me afastei de e desviei o rosto, tentando esconder o rubor dominando meu rosto. Ele clareou a garganta, e o que quer que fosse o momento que nós estávamos tendo — ou estávamos prestes a ter — desvaneceu.

Duas figuras emergiram das palmeiras do outro lado do acampamento e acenaram para nós. Eu semicerrei os olhos sob a luz brilhante do sol, tentando decifrar os nomes.

Lana e... Will — ambos estavam vestidos de amarelo fluorescente que caíam bem com suas peles morenas.

— Eles deveriam estar aqui? — Eu olhei para meu parceiro.

deu de ombros, seus músculos ainda reluzentes da loção.

— Acho que o cameraman nos diria se não, né?

O cinegrafista geralmente designado para nossa praia pairava não muito longe — eu mal o notava mais — e não parecia estar tendo nenhum tipo de chilique nem chamando seu chefe pelo telefone via satélite, então eu imaginei que visitas ocasionais ao acampamento eram permitidas.

Após um momento de hesitação, eu avancei, seguindo .

Lana estava acenando animadamente, um sorriso malicioso no rosto enquanto nos aproximávamos, e eu imaginei que ela tinha visto e eu passando loção um no outro. Seu companheiro estava fazendo malabarismo com dois cocos e os agarrou com a nossa aproximação.

— Presente de boas-vindas — ele declarou em uma voz igualmente animada.

Os dois estavam muito felizes em nos ver. Isso me deixou inquieta, considerando que estávamos em um jogo competitivo em que uma equipe poderia facilmente eliminar a outra. Ainda assim, como avançou com um sorriso fácil, a mão estendida para apertar a deles, eu segui atrás, relutante.

Lana abraçou e se afastou, franzindo o nariz.

— O que é isso em você?

sorriu e correu uma mão pelo peito gorduroso, enquanto eu parava ao lado dele, tentando não franzir a testa.

— Desculpe, nós estávamos experimentando nosso repelente.

Enquanto eu olhava, os olhos castanhos de Lana se iluminaram e ela estendeu a mão para de novo.

— Nesse caso, eu deveria me esfregar contra você um pouco mais.

Meu parceiro se desviou com uma pequena risada, e Will sorriu, mas eu não consegui acompanhar. Conformei-me com um sorriso tenso que não parecia pertencer ao meu rosto.

Outro momento incômodo passou e, em seguida, Lana agitou as mãos, como se estivesse tentando afugentar o constrangimento.

— Queríamos ver se vocês tinham fogo e se poderíamos pegar um pouco emprestado, já que somos praticamente vizinhos.

— Nós temos comida — acrescentou Will, erguendo os cocos. — E duas bananas. — Ele as tirou da sua camisa.

Eu tenho que admitir que ofeguei de prazer com isso.

— Tem bananas nesta ilha?

— E manga, se você souber onde procurar — disse Lana, sorrindo. — Podemos lhes mostrar se vocês prometerem não mostrar para nenhuma outra pessoa. Em troca de fogo, é claro.

Olhei para , e ele olhou para mim.

— Vocês podem nos dar um segundo? — perguntei, e antes que pudessem responder, agarrei o meu parceiro pelo cotovelo e o arrastei para longe.

— O que você acha? — sussurrou baixo em meu ouvido. A sensação de sua respiração no meu pescoço fez todo meu corpo tremer de desejo.

— Não tenho certeza — admiti, ainda um pouco irritada com a visão da bela Lana esfregando as mãos no peito de . Por que isso me incomodava, eu não sabia dizer. Quero dizer, Will era bonito também, mas o pensamento de Lana colocando as mãos nele não me irritava.

— Se eles podem nos mostrar onde o resto das frutas está—

— Eu sei, mas fogo? — Eu dei de ombros, então cruzei os braços sobre o peito. — E se nós formos os únicos que têm fogo? Quanto de vantagem nós estamos abrindo mão?

— Não somos os únicos que têm fogo — ele lembrou. — Lembra-se dos fósforos? E além disso, eu acho que vamos precisar de aliados nas próximas semanas. Pode ser útil compartilhar informações com nossos vizinhos e trazê-los para o nosso lado.

A menos que eles usem isso contra nós, eu pensei impiedosamente. Olhei para a dupla em espera, e Lana tinha a mão nos olhos, protegendo-os do sol. Ela me deu um sorriso animado, e eu quebrei a cabeça, tentando lembrar o que sabia sobre ela.

— Qual é o trabalho dela mesmo?

pensou por um momento, depois estalou os dedos.

— Conselheira de acampamento. E eu acho que lembro de alguém dizer que Will é professor.

— Acho que eles são bons — eu disse, cedendo. — Eu só me preocupo que alguém venha a estragar as coisas para nós, quando estamos indo tão bem.

me deu um abraço gorduroso, esfregando meu braço.

— Não se preocupe com nada. — Sua pele quente e oleosa deslizou contra a minha, enquanto ele me puxava para perto. — Eu vou lidar com eles.

Para minha grande vergonha, era maravilhoso ter me segurando próximo a ele, sentindo a pele aquecida pelo sol contra a minha. A urgência de afundar contra ele estava me consumindo. Lana nos deu um olhar interessado, e tarde demais, eu me lembrei que nós deveríamos estar pulando na garganta um do outro. Eu me afastei e segui de volta para a Equipe Nove, tentando permanecer tão indiferente quanto possível, apesar do sorriso triunfante de Lana.

— Fogo por alimento parece um bom negócio para mim — disse , dando um passo à frente. Lana bateu palmas alegremente, e Will explodiu em um sorriso, e eu percebi o quanto eles precisavam de fogo. Estavam provavelmente desesperados para algo para beber que não saísse de um coco.

Will entregou as frutas para , que me deu uma banana. Eu imediatamente comecei a descascá-la e comê-la — a fruta estava um pouco verde e com cica, mas ainda era uma das melhores coisas que eu comia no que parecia um longo tempo. Notei que estava comendo a sua também, e nós não fizemos nenhuma pretensão de tentar manter uma conversa enquanto enfiávamos o alimento goela abaixo.

Quando acabei de dar as últimas mordidas de banana e suspirei, eu ponderei o que fazer com a casca. Talvez pudéssemos fazer um ensopado com ela mais tarde. Ou... qualquer coisa do tipo.

— Fogo? — disse Lana em expectativa.

olhou para mim e assentiu. Ele colocou o braço ao redor dos ombros de Will e gesticulou para a espessa vastidão de palmeiras à distância.

— Por que Will não me mostra onde está a comida, e você mostra a Lana o fogo?

Eu assenti e nos separamos, nós garotas andamos de volta para o acampamento, enquanto os rapazes trotaram para os vastos arbustos. Lana me deu um olhar avaliador tão logo eles estavam fora de vista.

— Então, como estão as coisas com ?

— Tudo bem — eu disse lentamente, incerta de quanto revelar ou do quando ela já tinha adivinhado. — Como estão as coisas com Will?

— Muito platônico — disse ela com um meio sorriso fraco. — Ele é gay.

— Oh. — Eu pisquei, tentando absorver isso. Will era bem construído e absolutamente lindo de se olhar. — Então imagino que vocês não são um casal?

Lana bufou, o som alto para a pequena mulher asiática.

— Ele não para de falar sobre o seu parceiro, . Definitivamente, é de pau que ele gosta.

Eu ri.

— Bem, é o maior pau no c* desta ilha, então ele veio ao lugar certo.

Ela sorriu, mas o olhar astuto retornou.

— Sério? Vocês dois pareciam bem à vontade antes. E eu percebi que você estava se atrasando propositalmente no desafio.

Ela tinha percebido tudo isso? Merda, Lana era muito mais observadora do que eu gostaria.

— Eu achei que poderia ser um pouco óbvio se nós ficássemos em primeiro.

— É um plano de gênio — Lana admitiu. — Quando eu vi você hesitando com o quebra-cabeça e depois gritando com , eu te achei muito esperta.

— Eu apreciaria muito se você não dissesse nada a ninguém — eu disse, hesitante. Me deixava nervosa que ela tivesse desvendado e eu tão rápido.

— Dizer a alguém? — Seu rosto se abriu em um sorriso, e eu percebi pela milionésima vez como cada mulher nesta ilha era bonita. — Eu não vou dizer nada. Acho que nós quatro nos daríamos melhor como aliados.

Agachei-me ao lado da fogueira, cutucando o tronco gigante que tínhamos jogado ali antes do desafio para mantê-lo queimando. As chamas haviam sumido, mas as brasas no fundo ainda estavam vermelhas. Não seria preciso muito para aquecê-los novamente.

— Como você vai levar isso?

— Boa pergunta — disse Lana. — Acho que nós não pensamos muito adiante. Só estávamos desesperados o suficiente para tentar qualquer coisa.

Eu peguei a nossa panela.

e eu ainda não tivemos a chance de usar isso ainda. Podemos colocar alguns galhos com brasa para transportar para o seu acampamento.

— É uma boa ideia — disse ela, e Lana passeou ao redor do nosso pequeno acampamento, como se tomando notas. — Seu abrigo é incrível — ela elogiou, inclinando-se sobre ele e examinando onde eu entrelacei as folhas de palmeira. — Como você conseguiu manter tudo junto? Eu tentei construir algo, mas se desfez na primeira noite por causa do vento.

Fiz um gesto em direção ao abrigo e tentei não deixar o orgulho me subir à cabeça.

— Eu usei meu biquíni de cortininha para amarrar.

Lana me deu um olhar surpreso, então riu de novo.

— Ele é um pouco revelador — ela admitiu, embora ela estivesse usando o seu naquele momento. — E um cobertor também. Legal. Will tem anzóis e eu alguns temperos. O que você pegou?

— Eu... — Oh, céus, eu não queria contar a ela sobre minha manteiga de amendoim. — Eu peguei um pote de algum tipo de comida, mas o deixei cair na água antes mesmo de chegar à costa — disse, a mentira surgindo enquanto eu falava. — Muito desapontador.

Ela fez murmúrios de simpatia.

— Imagino.

Assim que ela terminou com a água, nós enchemos a panela com brasas e a carregamos pela praia em direção ao acampamento deles, adicionando pequenos galhos secos para manter o fogo aceso. A praia da Equipe Nove estava situada a um quilômetro e meio de distância ou mais e do outro lado de uma pequena enseada. Não muito longe, na verdade. Uma verificação rápida revelou o que eu suspeitava — o acampamento deles estava uma merda. Sem fogueira, sem abrigo, nada. Com a ajuda de Lana, me propus a criar uma nova fogueira para eles, dispondo a lenha em uma pequena pirâmide e enviando Lana para arrumar mais material seco e inflamável.

e Will retornaram enquanto estávamos construindo o fogo, os braços cheios de frutas, e discutindo onde eles tinham achado as frutas e os melhores lugares para achar mais. Eles pareciam bastante amigáveis, e quando Will mostrou a os anzóis, os homens estavam determinados a tentar pegar um peixe. Eles passaram a maior parte da tarde na água, enquanto eu ajudava Lana a tentar construir um abrigo similar ao nosso, embora um pouco maior.

— Não é tão acolhedor quanto o seu, mas eu não quero dormir aninhada a Will, a menos que esteja frio — disse ela com uma nota de brincadeira na voz.

Eu paralisei. Queria salientar que eu tinha originalmente construído o abrigo só para mim, mas então isso revelaria que a antipatia que e eu tínhamos demonstrado nem sempre  fora fingimento. Então eu mudei de assunto.

— Você quer rasgar sua camisa em tiras para amarrar a estrutura ou devemos usar seu biquíni também?

Lana queria manter seu biquíni, por isso, rasgou pequenas tiras da parte inferior da camisa que tinha sido fornecida, e começou a construir o resto do abrigo. No momento em que o sol estava descendo, nós tínhamos um abrigo decente pronto, o fogo crepitava, e havia água fresca fervida, coco, e os homens tinham conseguido pescar dois peixes pequenos, que foram divididos em quatro. Houve uma tonelada de bate papo alegre durante o jantar escasso, sobre os pais filipinos autoritários de Lana, meu emprego como crítica literária, e rindo sobre como e eu tínhamos parecido péssimos no primeiro desafio.

E quando Lana mencionou a aliança novamente, não pareceu uma má ideia. Nós concordamos, cada um colocando a mão sobre a do outro.

— Até o fim — disse Lana, seus olhos de gato brilhando na escuridão. — Quarteto final.

— Quarteto final — , Will e eu concordamos.

 


N/A: Hello, people *cri cri*
Finalmente, estamos evoluindo. A trégua entre eles provou ser útil, mas e essa nova parceria? Será que vai dar certo?


 

Capítulo 7

 

— Tem certeza de que foi a decisão mais sábia? — perguntei a , enquanto caminhávamos de volta ao nosso acampamento na extremidade da praia, nossas barrigas (relativamente) cheias, e cansados depois de um longo dia. O sol estava baixo e o ar da noite estava ficando frio, o que encerrou nosso luau improvisado. Eu carregava nossa panela nos braços de novo, com algumas brasas piscando com fogo para que pudéssemos reconstruir a nossa fogueira. caminhava ao meu lado, sua figura alta sombreando a minha. — Quero dizer, eu gosto de Lana e Will, mas eu ainda acho que eles estão fazendo seu próprio jogo, e nós somos apenas peças desse jogo.

— Eles estão — concordou comigo. — Mas, enquanto tivermos consciência disso, eu acho que vamos ficar bem. E nos dá uma melhor chance de chegar até o final se nós estivermos em quatro ao invés de dois. Eles vão proteger nossas retaguarda e nós a deles... ao menos até que cheguemos mais próximos do fim. — Na praia banhada pelo luar, ele olhou para mim e sorriu. — É bem inteligente, na verdade. Ninguém vai achar que alguém é burro o suficiente para se aliar a gente.

— Nós parecemos mesmo uma má aposta no momento — provoquei, olhando para ele e sentindo um curioso rubor corporal quando ele olhou em minha direção. Eu resisti à urgência de sorrir para ele, sabendo que o sorriso ia sair pateta e estranho, e tão óbvio quanto eu estava me sentindo. Inferno, eu sentia como se estivesse exibindo minhas emoções no peito tão ousadamente quanto exibia meu nome.

Eu tinha uma quedinha pelo meu parceiro.

Não tinha ideia de como tinha acontecido. Um dia eu estava jogando tinta nele por gritar comigo, e no próximo eu não conseguia pensar em nada além de esfregar mais repelente em sua pele firme. Só uma atração física, eu disse a mim mesma. era de longe o homem mais atraente na ilha — alto, atlético, um belo sorriso, inteligente —, mas podia ter algo a ver com o fato de que passávamos o tempo inteiro juntos. De todo modo, eu tinha certeza de que era unilateral, então a melhor coisa a fazer era cortar o mal pela raiz. Afinal, havia uma dúzia de mulheres gostosas nesta ilha, especialmente Lana. Ela era linda e delicada, e preenchia seu biquíni de maneiras que teria sido embaraçoso em mim.

— Alguma coisa em mente? — perguntou quando chegamos à nossa praia, e eu me ajoelhei ao lado do fogo agora apagado para despejar as brasas. — Parece quieta.

— Só cansada — disse eu, tentando manter uma nota alegre na voz.

Antes mesmo que eu pedisse, foi me entregando mato e folhas secas para atiçar o fogo, e seus dedos estavam roçando os meus. A simples ação fez meu estômago vibrar, e para minha vergonha, meus mamilos enrijeceram ao leve toque.

— Frio? — perguntou .

Minha confusão aumentou. Ele estava olhando para os meus seios? Virei-me para longe do fogo com o pretexto de juntar mais lenha.

— Um pouco. — Minha voz soou tensa. — Eles não nos deixaram muito para vestir.

— Hmm — disse , olhando para o fogo enquanto eu jogava mais pedaços de madeira para construir uma chama decente. — Não posso dizer que eu estou reclamando.

Eu tive que rir com isso, relaxando um pouco. estava só sendo , e eu estava pirando por nada.

— Sim, bem, não é você que está com a bunda se equilibrando dentro de uma roupa de banho do tamanho de um lenço.

— Acha que eu deveria reclamar com Chuck que se a equipe de produção nos desse igualdade de oportunidades de verdade, eles nos colocariam em sungas?

Isso seria uma visão e tanto.

— Você provavelmente instigaria uma revolta na ilha dos outros homens — eu disse, ficando de pé e sacudindo a areia das minhas pernas. — Nenhum homem hetero em mente sã usaria uma daquelas coisas e esperaria manter o orgulho intacto. Agora me ajude a pegar isso aqui. — Eu ri com a imagem mental e me movi para o lado mais distante do acampamento para um tronco grande e pesado.

— Então não gosta de sungas, hein?

— Não é que eu não goste — retruquei, arrastando o tronco para frente. — Mas olhe os nadadores profissionais, por exemplo. Fica um montão de pele exposta, é difícil olhar direto para a sunga, . Acho que um cara que decide raspar o corpo e usar o equivalente a uma tanga masculina... bem, eu acho que ele está tentando impressionar outros homens, se é que me entende.

— Entendo — ele disse em uma voz estranha. Voltei-me para o fogo e tinha um olhar indefinível em seu rosto.

— Algo errado?

Ele olhou para mim e então ficou de pé, sacudindo a areia do corpo.

— Não, estou bem. Pronta para se recolher?

— Pronta — eu disse. Com a sua ajuda, nós colocamos o tronco pesado sobre o fogo e amontoamos para a noite. pegou o cobertor e sacudiu, jogando um jato de areia ao vento.

Olhei para o pequeno abrigo na borda do nosso acampamento, a uma distância segura da fogueira. Tínhamos passado o dia todo no acampamento de Lana e Will, ajudando-os a construir seu abrigo e pescando. Agora, Lana e Will tinhma um lugar decente para dormir e meu parceiro não. Não parecia muito justo. Percebi que chegou à mesma conclusão quando ele olhou para o meu abrigo aconchegante e, em seguida, começou a esquadrinhar o terreno em busca de um lugar decente para estender seu cobertor.

— Nós dois podemos caber ali dentro — soltei abruptamente, surpreendendo até a mim mesma. — Tenho certeza que nós dois podemos conseguir entrar.

Ele parecia igualmente surpreso com a oferta.

— Tem certeza? Parece que só cabe uma pessoa.

Bem, é claro que parecia. Tinha sido construído para uma pessoa. Mas agora eu estava irritada por parecer uma babaca mesquinha que tinha construído um abrigo para uma pessoa.

— Nós podemos caber e compartilhar o cobertor. Venha. — Quando ele hesitou um momento mais, eu acrescentei: — Eu não mordo, mas as pulgas de areia sim. Então suas opções são: dormir aqui e passar mais uma noite miserável ou compartilhar a cama comigo.

Ele gesticulou para o pequeno abrigo.

— Depois de você, então.

Ajoelhei-me e me arrastei para o pequeno espaço, desconfiando que ia mudar de ideia ou empurra toda a coisa frágil em cima de mim. Alguma coisa do tipo. E para ser sincera, eu não o culparia absolutamente por nenhum dos dois.

Para minha surpresa, sua cabeça surgiu dentro do abrigo um momento depois, os ombros largos mal cabendo na minúscula estrutura em A. fez uma pausa, olhando para o abrigo, algo entre sessenta e setenta e cinco centímetros de largura.

— Porra, isso é pequeno.

— Aconchegante — eu debochei, me sentindo um pouco envergonhada.

— É melhor você se deitar então eu posso engatinhar por cima de você, ou eu não acho que vou conseguir entrar.

Eu assenti e deitei, deslizando sobre as folhas de palmeira que constituíam minha cama. Minha pele ainda estava ligeiramente oleosa da última passada de loção, e eu deslizei surpreendentemente fácil.

— Estamos todos besuntados então não deve ser difícil para você entrar — brinquei, depois desejei desesperadamente que pudesse ver seu rosto na escuridão. Mas para abrir espaço, eu me virei de lado e encarei a estrutura, tentando me encolher e manter o corpo parado para que ele pudesse entrar ao meu lado.

Foi... interessante, tentar espremer outro ser humano em tamanho real no meu pequeno abrigo. Senti o corpo grande de , os braços, as pernas, o peito firme, e tornou-se dolorosamente óbvio que não havia espaço para que nós dois deitássemos confortavelmente. Sua pele tocava a minha, não importava o que ele fizesse, quente e ligeiramente úmida da loção. Sua pele lisa deslizou contra as minhas costas, as pernas roçando as minhas enquanto ele se virava, tentando ficar confortável.

Depois de um momento, praguejou, o som perto do meu ouvido.

— Não está dando certo.

Eu queria me virar, mas tinha medo de acertá-lo no nariz.

— Por que não está dando certo? — Seu corpo constantemente tocava o meu, aqui e ali, e toda vez que o fazia, recuava novamente. Eu me mantive rigidamente imóvel, tentando não me mover e piorar a situação em meus esforços para ajudá-lo.

— Porque — ele começou, se movendo novamente — eu continuo... te tocando... não importa o que eu faça. Não tem espaço suficiente para nós dois estarmos aqui sem tocar. — Sua respiração irrompeu em uma explosão frustrada.

Oh, estranho. Ele não queria me tocar?

— Olha, eu não vou pirar se acontecer de você me tocar a noite inteira. Eu me sentiria muito pior se acordasse e você estivesse coberto de areia, ok? — Eu estendi a mão e toquei seu braço, tentando indicar que ele devia se deitar. — Simplesmente finja que eu sou sua namorada e nós podemos dormir de conchinha — brinquei.

Eu precisava aprender a calar minha boca grande. Assim que eu disse, sua mão deslizou pela minha cintura, fazendo ondas de choque percorrerem meu corpo. Seu corpo grande se aconchegou ao meu lado, me puxando perto no abraço mais íntimo que eu já tivera. Suas pernas pressionavam as costas das minhas, sua ereção aninhada contra minha bunda, seu tórax cobrindo minhas costas. Eu quase reclamei, mas estava agradável demais para reclamar. E o homem irradiava calor. Eu gostei um pouco demais de estar aninhada a ele.

— Isso é bom — disse em voz baixa. — Muito melhor. — Eu senti meu cabelo se mover um pouco e podia jurar que ele inalava.

Estava cheirando meu cabelo? Com certeza não. Eu provavelmente fedia a eucalipto, coco e água salgada.

Havia ainda um pouco de areia presa em nossas peles, o que era óbvio com nossos corpos se esfregando, mas por incrível que parecesse, eu não me importava. E quando puxou a coberta sobre nós e então colocou o braço contra minha barriga — por baixo da coberta — eu não disse nada. Só me mexi o suficiente para que minha cabeça se apoiasse no meu braço dobrado, e tentei dormir.

“Tentei” sendo a palavra imperativa, é claro. Apesar do cansaço de viver na praia e comer quase nada durante todo o dia, meu corpo inteiro parecia vibrar por dentro, e eu estava constantemente ciente da mão de espalmada em minha barriga, pressionando meu corpo contra o dele. Nossos corpos encaixados juntos, carne aquecida contra carne aquecida, a única coisa nos separando sendo duas roupas de praia. Parte de mim esperava que ele movesse a mão mais para baixo, ou esfregasse sua ereção contra minha bunda um pouco mais e me deixasse saber que ele estava interessado. Massageasse meu ombro. Alguma coisa. Qualquer coisa.

Mas ele ficou deitado tão imóvel quanto eu, e depois de uma eternidade de espera, eu caí no sono.

 

—✰—

 

Os dias seguintes caíram em um padrão previsível. Todas as manhãs nós acordávamos, limpávamos o acampamento, atiçávamos o fogo e preparávamos o café da manhã. Nós trabalhávamos para melhorar nosso acampamento de manhã, e caminhávamos para visitar Lana e Will no período da tarde. Quando começava a escurecer, nos dirigíamos de volta e nos aninhávamos em nosso minúsculo bangalô, juntos, os corpos pressionados.

Isso estava destroçando minha autoconfiança. A cada dia parecia que compartilhávamos um momento ou dois carregados de eletricidade. Nossos dedos se tocavam e nossos olhos se encontravam. Ele gastava um momento muito longo esfregando loção nas minhas costas. Eu o observava por um longo tempo quando ele emergia do oceano, brilhando com água do mar. A forma como sua boca se inclinava de um lado quando ele sorria para mim. A sensação de seus quadris contra os meus à noite.

Ele estava me deixando tão inacreditavelmente excitada. E o homem estava completamente desinteressado. Se eu estava enviando sinais, ele não os estava recebendo. Se eu sorria para ele, ele se virava. Se eu o puxava um pouco mais perto à noite, ele roncava. Era a incerteza que me impedia de fazer um movimento completo. Eu era a mulher menos atraente na ilha, certo, mas eu não era nenhum ogro também. Como ele reagiria se eu me atirasse sobre ele?

Ele simplesmente pegaria o que era oferecido sem pensar duas vezes (o que seria ruim) ou recuaria em desgosto (o que seria muito ruim)? Pior ainda, como isso mudaria nossa dinâmica de equipe? Estávamos confortáveis um com o outro agora, e nos dávamos sutilmente bem como equipe.

Sutil o suficiente para que ninguém suspeitasse que as nossas rusgas eram totalmente fake. A cada desafio, nós fazíamos questão de brigar. Eu dava tapas em seu braço para transmitir meu desgosto, e ele devolvia com desprezo fulminante. Nos quatro desafios da semana seguinte — três de imunidade, um de recompensa — nós conseguimos cuidadosamente nos colocar nos últimos lugares classificados. Lana tinha sugerido que nós propositalmente perdêssemos o próximo desafio de recompensa para despistar as pessoas, e então quando veio outra disputa de natação, fui eu que nadei.

Perdemos por uma milha, e tinha armado uma cena na praia que fez os cinegrafistas se agitando ao nosso redor, e eu esfreguei tanto meus olhos depois de nadar na água salgada que não tive que fingir os filetes que vazaram dos meus olhos, especialmente depois que Lana e Will se afastaram com um grande prato de manteiga de amendoim e chocolate que devoraram na frente de todos. De volta ao acampamento, me deu um abraço confortador e amigável e despenteou meu cabelo. Como se eu fosse uma criança.

Isso me deprimiu muito mais do que perder o chocolate.

Nós escapamos de ficar nos dois últimos lugares em todos os desafios de imunidade, embora conseguíssemos nos sair mal o suficiente para que ainda parecêssemos incompetentes. As duas próximas equipes a ir para casa foram a da “Biologista Marítima” — o que me fez sorrir amplamente —, de uma das modelos de roupa de banho, e de Jody, a Médica Residente.

A julgar pela informação que tinha sido me dada antes de me juntar ao programa, nós tínhamos mais três eliminações por equipe antes de nos fundirmos como uma grande tribo feliz. e eu nos mantínhamos a par dos dias fazendo marcas numa árvore, e estávamos lá a um pouco mais de duas semanas.

Incrível, isso. Meu corpo estava bronzeado e um tanto mais magro do que quando desembarquei na ilha, meu cabelo era um emaranhado que eu mantinha em uma trança grossa só para mantê-lo longe do meu rosto, e minha roupa estava uma bagunça salgada que cheirava à água do mar. Suponho que seja também por isso que não está interessado em mim, eu me lamentava enquanto pegava os grãos de arroz da minha tigela de café da manhã (feita da metade de um coco) e os lambia dos meus dedos. Eu não estava exatamente tentadora. Parecia como se estivesse abandonada em uma ilha deserta.

— Desafio de hoje — disse ao abrir nossa caixa de correio vermelha e tirar uma mensagem. Normalmente nossas mensagens eram bastante simples, amarrados em um rolo com um pedaço de barbante fechando-a. Uma vez tinham escrito nas costas de um coco, e o desafio foi boliche de coco (no qual nos saímos terrivelmente mal, e não de propósito). Esta mensagem era um quadrado de pergaminho com franjas verdes penduradas na ponta, quase como uma saia de grama. Ela estremeceu e deslizou quando chacoalhou a mensagem e eu me ergui e andei até o seu lado para ler a mensagem sobre seu ombro.

Quando o fiz, meus seios roçaram contra seu braço e ele olhou para mim em surpresa.

— Desculpe — eu disse em uma voz baixa e dei um passo atrás, desejando que ele não ficasse tão surpreendido com aquilo. Eu não queria me desculpar com ele, eu queria agarrar seus ombros e montar em cima dele.

Isso era tão errado.

Ignorando minhas desculpas, entregou a carta para mim e eu comecei a lê-la em voz alta.

O desafio de hoje é especial. A sua diversão se garantirá. Arrume sua mala e pegue suas coisas, afinal. Quem sabe o que o amanhã lhe trará? — Eu virei o papel, só para verificar se tinha alguma coisa escrita na parte de trás, além daquela tentativa falha de rima, e então franzi a testa e o entreguei de volta a . — Isso não nos diz nada.

— Vai acontecer alguma coisa — ele disse, assentindo com a cabeça. — Eles não iam querer que levássemos nossas coisas, a menos que estivessem planejando fazer algum tipo de troca.

Certamente ia acontecer algo de diferente, afinal, não era dia de eliminatória. Meu estômago afundou.

— Uma troca? Quer dizer, tipo trocar de parceiros? — Aquilo arruinaria tudo.  Oh, não, e se eu ficasse presa com alguém como Leon ou Olaf, o motociclista? Eu estaria ferrada. Pior ainda, poderia ser emparelhado com alguma gostosa e ele esqueceria tudo sobre mim e meu desejo não correspondido que ele estava determinado a ignorar.

me deu um olhar de escrutínio.

— Você quer ficar junto?

O quê? Por que ele estava perguntando aquilo? Como eu deveria responder? Ou ele só estava tomando o caminho mais fácil? Claro, me ocorreu naquele momento. Ele provavelmente queria uma parceira mais atlética. Alguém um pouco mais agradável que eu. Alguém fofa e bonita e tão atleta como, digamos, Lana.

— Talvez.

Sua boca se curvou de um lado.

— Não fique tão animada com a perspectiva.

Eu só estava sendo cautelosa. Afinal, pular em cima dele e gritar: “, eu quero ter seus filhos” parecia um pouco extremo, especialmente já que ele nem queria fazer par comigo a princípio. Então eu disse:

— Bem, aconteça o que acontecer, nós quatro estamos juntos até o fim, não é?

Sua boca retorceu ligeiramente, o sorriso enfraquecendo.

— Certo. As probabilidades estão em nosso favor, se trabalharmos juntos, não importa quem estiver na nossa equipe.

— Talvez seja para melhor nos separamos — arrisquei lentamente. — Assim nós poderemos influenciar nossos parceiros. — Soava puramente lógico. Me fez querer vomitar. — Além disso, nós nem queríamos ficar juntos.

Seu meio-sorriso se tornou frio.

— Não, você tem razão. Estamos nisso pelo dinheiro. — Ai. Isso doeu um pouco mais do que eu esperava, ouvir direto de sua boca. Estamos nisso pelo dinheiro, e você é uma parceira ruim. Ele poderia muito bem ter dito o resto em voz alta.

Eu me senti tola e desprezível. Devíamos estar trabalhando juntos, tentando formular algum tipo de plano. Descobrir como ficar juntos apesar de qualquer tipo de troca. Em vez disso, aqui estava eu lhe dizendo que era melhor nos separarmos, e ele estava concordando comigo. Meu coração cínico que batia tão forte na presença dele se sentia destroçado.

— É melhor irmos andando — disse , atravessando o campo para pegar sua bolsa. — O bote logo vai estar aqui.

Puxei minha mochila para fora do meu pequeno abrigo e senti o peso da manteiga de amendoim dentro dela. Nós tínhamos sido extremamente econômicos com ela até agora, tendo pequenos petiscos só antes dos desafios. Eu me lembrei da cena com a primeira prova da manteiga, como a boca de tinha lambido meus dedos e eu o olhava, estarrecida, enquanto meus batimentos pulsavam forte contra meus ouvidos.

E com essa lembrança em mente, eu abri o pote e escavei um dedo na manteiga de amendoim mais uma vez, e ofereci a ele.

— Energia para o desafio?

Ele olhou para mim e para o meu dedo. Eu não tinha me oferecido para “alimentá-lo” com a manteiga desde aquela primeira vez, quando ele avançou automaticamente e me tomou em sua boca. Eu poderia dizer que ele também estava pensando nisso. Depois de um momento de pausa, ele acenou para o pote.

— Eu mesmo vou pegar o meu.

Dei de ombros, como se não me incomodasse, e coloquei o dedo em minha própria boca, lambendo-o e tentando não mostrar o quanto estava verdadeiramente magoada com sua recusa.

Afinal, era um jogo. Ele estava jogando por dois milhões de dólares, assim como eu. Claro que ele não ia ficar todo romântico — especialmente com alguém como eu, tão distinta das outras tipos supermodelos coelhinhas da Playboy. Eu era muito normal para um deus como .

Eu continuei chupando o dedo, suspirando. Talvez um novo parceiro fosse a melhor coisa.

 

~Continua~


N/A: Não sei pq, mas esse capítulo me deixou meio deprimida... deve ser TPM :3
Desculpa, Lyssa, por não postar antes de vc viajar (eu nem sabia que vc ia viajar, peste!) :*


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